Sensacionalismo da Folha de S.Paulo na cobertura do acidente

Fonte: Portal Vermelho

Enquanto se acumulam evidências que o Airbus teve um problema não relacionado ao piso molhado da pista principal do aeroporto de Congonhas, a Folha insiste em imputar a causa da tragédia ao governo federal, embora existam cada vez mais evidências que, nem a chuva, nem a pista molhada poderiam ter causado tal desastre.

Dar voz a colunistas que vociferam contra o governo é algo que a Folha tem feito sistematicamente, desde que Lula tomou posse no Planalto em janeiro de 2003. A edição desta quinta-feira estampa na sua primeira página mais uma hipocrisia. O colunista Fernando Daudt afirma, na primeira página de hoje, que o governo é culpado pelo assassinato de mais de 200 pessoas.

Enquanto vão se esvaindo as probabilidades de que o avião tenha sido levado a uma tragédia por culpa inclinada das autoridades do setor aéreo, o colunista, na primeira página do jornal, abre seu texto com a sentença hipócrita: ''Gostaria de ter minha dor amenizada pela manchete de jornal que estampasse, em letras garrafais: 'Governo assassina mais de 200 pessoas'''.

Será que o colunista terá coragem suficiente de admitir, caso se prove que o governo federal não tem nenhuma responsabilidade sobre a tragédia, que errou, que induziu ao erro? Será que vai admitir que é despreparado para debater qualquer tipo de acidente, seja aéreo ou ''jornalístico''?

Cerca de 30 horas após a tragédia ainda não se sabe o que fez o avião percorrer os 2 quilômetros de pista e depois abalroar o edifício de carga da própria TAM, mas começam a surgir indícios de que a pista é um dos itens menos prováveis de causa do acidente.

As câmeras da Infraero, que gravam a atividade aeroportuária durante o funcionamento do aeroporto exibiram imagens da aeronave cruzando a pista em altíssima velocidade. Imagens reproduzidas pelo próprio Universo On Line, da Folha de S.Paulo, vistas por peritos, sugerem que o motor esquerdo estava emitindo fumaça anormal. O presidente da Infraero, mais tarde, afirmou que a fumaça seria apenas vapor d'água, produzida pelo choque da água contra o motor aquecido.

Um mecânico da TAM, que não quis identificar-se, afirmou à mídia, na noite do acidente, que a aeronave teria tentado arremeter. Na edição deste quinta-feira (19), sob uma fotografia de um bombeiro retirando pertences dos destroços, a Folha de São Paulo ''elenca'' em um quadro as possíveis causas do acidente. Atribui duas possibilidades à tripulação (erroneamente indicando ''piloto''), atribui cinco ao aeroporto e apenas duas ao ''avião''.

A indução descarada faz o leitor pensar que as condições da pista teriam mais probabilidades de causar tal tragédia. O jornal não entra em detalhes, mas afirma em seu editorial que ''existem conexões entre a tragédia e o descalabro que tomou conta do setor aéreo''.

Ironicamente, o editorial abusa da expressão ''acidentes acontecem, mas...''. Vocifera contra o governo federal por ter feito a reforma do aeroporto antes de reformar a pista. A Folha também iria vociferar contra o governo se este tivesse reformado a pista antes das instalações internas do aeroporto. Certamente estaria buscando as mesmas desculpas que busca agora, quando percebe-se que a pista não teve a influência que o jornal gostaria no acidente.

Insiste no ''Acidentes acontecem, mas...'' afirmando que a Infraero liberou a pista sem que ela tivesse as ranhuras necessárias para um melhor escoamento da água. Mas a Folha esconde que apenas quatro aeroportos brasileiros têm ranhuras na pista e esconde também que os engenheiros aeronáuticos afirmam peremptoriamente que não foi a falta de ranhuras que provocou esta tragédia.

Canhestramente, na mesma página do editorial, Eliane Cantanhêde, dribla o bom senso e começa a fugir das suas primeiras apontadas de dedo: ''A pista pode ou não ter sido determinante nessa tragédia do Airbus, mas a responsabilidade do governo não está aí, no detalhe.'' Está aonde dona Eliane? ''Está no fato de ter convivido com o perigo'', foge ela, tergiversando e evitando de apontar uma responsabilidade: Quem deixou construir casas e avenidas ao redor deste aeroporto? Quem permitiu que o mercado ditasse o ritmo de utilização deste aeroporto? Quem diminuiu salários e aumentou carga horária de pilotos e comissários? Não foi este governo dona Eliane.

Seria sábio — ou correto — por parte da Folha de S.Paulo cobrar do governador José Serra a culpa e a responsabilidade por 77 vítimas fatais em acidentes viários nas rodovias estaduais no último ano? Seria sábio apontar a chuva como responsável primordial pelos acidentes que mataram essas pessoas? A Folha sabe que não e, tucana como é, jamais faria esses questionamentos em suas páginas, tendo um tucano como alvo.

Resta esperar o resultado da investigação pelas autoridades aeronáuticas, resta cobrar da TAM uma indenização digna para os familiares das vítimas — algo que a empresa não fez em relação aos familiares das vítimas do acidente com o Fokker 100 em 1996 no mesmo aeroporto —, resta lamentar a morte de duas centenas de pessoas, que agora são usadas pelo jornalismo irresponsável da grande mídia para arremeter contra o governo federal, sem qualquer evidência justificável.

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