A Avalanche Dilma
Escrito por Guina
em 26 de ago. de 2010
Por Paulo Moreira Leite
Os números do DataFolha desenham o quadro de uma eleição já resolvida, se a votação fosse hoje. Como o pleito é 3 de outubro, até lá o país vai assistir a um esforço desesperado da oposição para inverter a disputa. Pelo panorama de hoje, a esperança é um acidente, um evento imprevisível.
Lembrando dos aloprados de 2006, que ajudaram a levar a disputa entre Lula e Geraldo Alckmin para o segundo turno, a oposição tenta colocar o escândalo sobre a quebra de sigilo fiscal de quatro personalidades ligadas ao PSDB no centro da campanha. Tem razão. A quebra de sigilo é um fato gravíssimo, um crime a ser apurado. A dúvida é saber se as investigações vão chegar a provas conclusivas e se, neste caso, o resultado final terá efeito sobre a decisão dos eleitores.
Mudanças de última hora ocorrem mas, em geral, exigem circunstancias favoráveis. A petista Luiza Erundina atropelou a disputa pela prefeitura de São Paulo, em 1988, com uma arrancada na reta final. Suas chances pareciam tão remotas às vésperas da eleição que, uma semana antes da votação, as pessoas apostavam se ela seria capaz de chegar em segundo lugar — jamais em primeiro. A verdade é que o ambiente que favoreceu Erundina incluia a um governo federal em situação de agonia, o que favorecia o crescimento da oposição à direita e à esquerda.
O líder da campanha, até o final, era o também oposicionista Paulo Maluf. Com um eleitorado dividido entre diversas candidaturas, sem referências maiores, Erundina venceu com um terço dos votos – se tivesse de enfrentar um segundo turno, iria encarar uma disputa muito diferente e imprevisível.
Não é o que acontece hoje, quando Lula bate recordes de aprovação popular e Dilma acumula 55% dos votos validos, conforme o DataFolha. As pessoas não dizem que vão votar na candidata do PT porque acham que ela é melhor do que José Serra ou Marina Silva. A opção é anterior. Elas estão satisfeitas com o governo atual e querem a continuidade. O programa de Dilma são os oito anos de governo Lula. É passado, mas é concreto, palpável e está presente na memória. É mais difícil mudar de idéia, vamos concordar.
É por essa razão que a campanha de Dilma transformou-se numa avalanche de adesões depois do início do horário político. A candidata do governo lidera em todas as regiões e em todas as classes. Passou José Serra até em São Paulo, estado natal do candidato.
Boa parte dos analistas políticos pergunta se a situação poderia ser outra, caso a campanha de Serra tivesse outra estratégia. Eu acho que a situação seria pior. Responsável pelas intervenções mais estridentes da campanha, o vice Indio da Costa conseguiu não acrescentar uma única intenção de voto à campanha do titular.
A maioria dos nossos estudiosos de política adora discutir conversas de bastidor, lances de esperteza e técnicas de manipulação política mas não presta atenção no fator que realmente importam numa eleição — que é o grau de satisfação do eleitor. Se tivessem feito isso, poderiam perceber que a população costuma premiar aquilo que considera um bom governo — e sua surpresa com a avalanche Dilma seria bem menor.
Fonte: Época
Os números do DataFolha desenham o quadro de uma eleição já resolvida, se a votação fosse hoje. Como o pleito é 3 de outubro, até lá o país vai assistir a um esforço desesperado da oposição para inverter a disputa. Pelo panorama de hoje, a esperança é um acidente, um evento imprevisível.
Lembrando dos aloprados de 2006, que ajudaram a levar a disputa entre Lula e Geraldo Alckmin para o segundo turno, a oposição tenta colocar o escândalo sobre a quebra de sigilo fiscal de quatro personalidades ligadas ao PSDB no centro da campanha. Tem razão. A quebra de sigilo é um fato gravíssimo, um crime a ser apurado. A dúvida é saber se as investigações vão chegar a provas conclusivas e se, neste caso, o resultado final terá efeito sobre a decisão dos eleitores.
Mudanças de última hora ocorrem mas, em geral, exigem circunstancias favoráveis. A petista Luiza Erundina atropelou a disputa pela prefeitura de São Paulo, em 1988, com uma arrancada na reta final. Suas chances pareciam tão remotas às vésperas da eleição que, uma semana antes da votação, as pessoas apostavam se ela seria capaz de chegar em segundo lugar — jamais em primeiro. A verdade é que o ambiente que favoreceu Erundina incluia a um governo federal em situação de agonia, o que favorecia o crescimento da oposição à direita e à esquerda.
O líder da campanha, até o final, era o também oposicionista Paulo Maluf. Com um eleitorado dividido entre diversas candidaturas, sem referências maiores, Erundina venceu com um terço dos votos – se tivesse de enfrentar um segundo turno, iria encarar uma disputa muito diferente e imprevisível.
Não é o que acontece hoje, quando Lula bate recordes de aprovação popular e Dilma acumula 55% dos votos validos, conforme o DataFolha. As pessoas não dizem que vão votar na candidata do PT porque acham que ela é melhor do que José Serra ou Marina Silva. A opção é anterior. Elas estão satisfeitas com o governo atual e querem a continuidade. O programa de Dilma são os oito anos de governo Lula. É passado, mas é concreto, palpável e está presente na memória. É mais difícil mudar de idéia, vamos concordar.
É por essa razão que a campanha de Dilma transformou-se numa avalanche de adesões depois do início do horário político. A candidata do governo lidera em todas as regiões e em todas as classes. Passou José Serra até em São Paulo, estado natal do candidato.
Boa parte dos analistas políticos pergunta se a situação poderia ser outra, caso a campanha de Serra tivesse outra estratégia. Eu acho que a situação seria pior. Responsável pelas intervenções mais estridentes da campanha, o vice Indio da Costa conseguiu não acrescentar uma única intenção de voto à campanha do titular.
A maioria dos nossos estudiosos de política adora discutir conversas de bastidor, lances de esperteza e técnicas de manipulação política mas não presta atenção no fator que realmente importam numa eleição — que é o grau de satisfação do eleitor. Se tivessem feito isso, poderiam perceber que a população costuma premiar aquilo que considera um bom governo — e sua surpresa com a avalanche Dilma seria bem menor.
Fonte: Época