Ministro inaugura Memorial por Greve de Osasco em 68

Na última sexta-feira (18/07), às 18h00, o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, inaugurou, em Osasco (Grande São Paulo) o memorial em homenagem a José Campos Barreto, João Domingues da Silva (ambos do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco) e Dorival Ferreira (do Sindicato da Construção Civil de Osasco) - todos operários e militantes de organizações de esquerda, mortos durante a ditadura. A solenidade faz parte do projeto "Direito à Memória e à Verdade", promovido pela Secretaria.

Este é o terceiro memorial inaugurado pela Secretaria e a obra foi realizada numa parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos e a Prefeitura de Osasco. O evento também integra a programação especial da semana "1968 – Memórias de uma História de luta", que comemora os 40 anos da greve que uniu 12 mil operários na luta contra a repressão da ditadura militar e por melhores condições de trabalho.


Conheça a história dos homenageados*

José Campos Barreto foi morto em 17 de setembro de 1971, em Brotas de Macaúbas, na Bahia, junto com Carlos Lamarca - o capitão do Exército que se engajou na luta armada contra o regime militar. Mais velho dos sete filhos de José de Araújo Barreto e Adelaide Campos Barreto, ainda muito jovem foi enviado a um seminário, em Garanhuns, Pernambuco, onde ficou por quatro anos. Aos 13 anos, já discutia política. Em 1963, decidiu não voltar ao seminário. Em 1964, mudou-se para São Paulo e serviu o Exército no ano seguinte, no quartel de Quitaúna. Estudou em Osasco, no Colégio Estadual e Escola Normal Antonio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo Estudantil Osasquense. Trabalhou como operário e destacou-se como importante liderança no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, em 1968.

Na Cobrasma protagonizou um de seus mais conhecidos feitos: quando a fábrica foi cercada, durante a greve de 1968, de cima de um vagão, discursou aos soldados, explicando as razões do movimento. Chegou a paralisar a tropa por um momento. De posse de uma tocha acesa, ameaçou explodir o tanque de combustível da fábrica. A tropa hesitou e muitos operários conseguiram escapar da polícia. Cerca de 400 foram detidos. Barreto sofreu espancamentos já no ato da prisão. Permaneceu 98 dias entre os cárceres do DEIC e do DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus. Em 1969, militando na VPR voltou ao sertão baiano. Depois deslocou-se para o Rio de Janeiro e voltou à Bahia, onde passou a militar no MR-8. Com a chegada de Lamarca ao Estado, foi designado para acompanhá-lo e com ele ficou até a morte. Lamarca e Barreto foram mortos por agentes do DOI-CODI da 6ª Região Militar, chefiados pelo general Nilton de Albuquerque Cerqueira.

Seus restos foram levados para Brotas de Macaúbas e jogados no campo de futebol. Os agentes comemoraram, dando rajadas para o alto, gritando vitória e chutando os cadáveres. Depois, os corpos foram colocados em um helicóptero e transportados para Salvador. A família ainda tentou localizar o corpo de José Campos Barreto, mas ficou sem qualquer informação sobre o local onde poderia estar enterrado e jamais conseguiu seu atestado de óbito.

Os militantes da VAR-Palmares, João Domingues da Silva e Fernando Borges de Paula Ferreira foram interceptados por policiais civis por volta da meia noite do dia 29 de julho de 1969, na avenida Pacaembu, em São Paulo. Na versão oficial, os policiais suspeitaram do veículo utilizado por ambos. Fernando teria morrido imediatamente e João Domingues, apesar de gravemente ferido, conseguiu escapar, refugiando-se na casa de uma irmã, em Osasco, onde foi preso no mesmo dia. Filho de Eliza Joaquina Maria da Silva e Antônio José da Silva, o operário João Domingues tinha sido, ao lado de seu irmão Roque Aparecido da Silva, um dos líderes da greve realizada em Osasco (SP) pelos trabalhadores metalúrgicos, em julho de 1968, passando a ser constantemente ameaçado de prisão e morte. Nascido em Sertanópolis (PR), desde os 10 anos, ajudava o pai no trabalho com o gado, onde viviam, em Jataizinho (PR). Aos 12 anos, trabalhava no matadouro de Ibiporã (PR) e, aos 13, em Osasco, num açougue. Militou nas organizações de esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e VAR-Palmares.

Ao ser preso na casa da irmã, foi levado para o Hospital das Clínicas, onde os médicos submeteram-no a uma delicada cirurgia. Mesmo correndo risco de vida, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) transportaram-no para o Hospital Geral do Exército, onde iniciaram um processo de interrogatório e torturas que culminou com sua morte, no dia 23 de setembro.

Filho de Alvina Ferreira e Domingos Antonio Ferreira, nascido em Osasco (SP), Dorival Ferreira era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Operário, era filiado ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Osasco e Região – do qual foi candidato à presidência em 1965. Casado, pai de seis filhos, Dorival morreu aos 38 anos, após ser preso pelos agentes do DOI-CODI/SP. Na noite de 2 de abril de 1970, agentes de segurança invadiram sua casa, aos tiros, em Osasco. A versão oficial alegou que ele morreu em tiroteio.

As provas que contrariam a versão oficial vieram do Instituto Médico Legal (IML), da perícia técnica e do DOPS. Nas declarações do pai de Dorival, prestadas ao delegado do Deops Edsel Magnotti, no dia 2 de junho, consta que ao chegar na casa do filho só encontrou policiais que lhe disseram que Dorival tinha sido preso, sem informar para onde fora levado. Também veio do DOPS uma ficha de Dorival, com data de 30 de abril de 1970, informando que ele morreu em 3 de abril do mesmo ano, isto é, no dia seguinte à sua prisão.



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