Frei Betto: "Vitoriosos na ditadura fomos nós, as suas vítimas"
Em entrevista ao site Terra Magazine, Frei Betto fala sobre a abertura dos arquivos da ditadura e critica o argumento de "revanchismo" utilizado por setores das Forças Armadas para criticar a proposta de revisão da Lei de Anistia. A legislação sobre o tema entrou em vigor em 1979.
"Revanche é virar o jogo na tentativa de o derrotado vencer o vitorioso. Ora, vitoriosos na ditadura fomos nós, as suas vítimas. Os militares ficaram tão mal na foto que, ainda hoje, temem sair à rua uniformizados".
A polêmica em torno dos limites da Lei de Anistia e da abertura dos arquivos da ditadura foi reaberta por recentes declarações do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da
Ambos defendem que a tortura perpetrada durante os anos de chumbo deixe de ser considerada como crime político.
"Não se trata de vingança, e sim de justiça. É a impunidade que favorece o crime", critica o dominicano.
Durante o regime militar, Frei Betto foi preso por suas ligações com a ALN (Ação Libertadora Nacional) de Carlos Marighella. Sua passagem pelo que chama de "sucursal do inferno" foi contada no livro Batismo de Sangue (1982), vencedor do prêmio Jabuti no mesmo ano.
A obra também narra a ajuda prestada pelos frades dominicanos aos militantes de esquerda, além de fazer um relato impressionante do assassinato de Marighella e das torturas sofridas pelo colega Frei Tito - que não resistiu ao fardo psicológico e se suicidou em agosto de 1964. "Parecia insuportável a Frei Tito seguir sofrendo, no espírito, essa tortura prolongada", escreveu.
Leia aqui no Vermelho a íntegra da entrevista com Frei Betto.