Por que a mídia cala sobre a prisão do jornalista Fredy Muñoz?

Por Pedro Aguiar

Fredy Muñoz, em imagem da Telesur Muñoz foi preso no último dia 19 pelo Departamento Administrativo de Segurança (DAS), polícia federal colombiana, em cumprimento a uma ordem expedida pela 5ª procuradoria regional (Barranquilla, norte do país). O jornalista, que é colombiano, é acusado de participar de dois atentados a bomba contra a rede de energia elétrica em Barranquilla e Cartagena em 2003. De acordo com o ministério público da Colômbia, Muñoz foi denunciado por guerrilheiros das Farc que cumprem pena por crimes semelhantes. A Telesur rebate que estes presos são estimulados a fazer delações falsas para se beneficiarem do programa de delação premiada.

Quem é o jornalista preso

Fredy Muñoz nasceu em Bogotá, tem 36 anos e iniciou a carreira nos jornais El Universal e El Periódico. Trabalhou também para a ONU, elaborando relatórios sobre desigualdades sociais e direitos humanos, e para o canal regional TeleCaribe. Começou a trabalhar para a TeleSur logo que a rede foi lançada, em julho de 2005.
Para o presidente da emissora, Andrés Izarra, a prisão tem motivação exclusivamente política e foi orquestrada pelo governo de Álvaro Uribe, principal adversário regional do presidente vizinho Hugo Chávez. ''Há um interesse político em atacar a imagem e a credibilidade da TeleSur'', disse. ''Todos que exercem o jornalismo na Colômbia sabem que estão sujeitos a uma atividade que acarreta um risco considerável. No caso da TeleSur, temos um risco adicional, já que foi da Colômbia que vieram os ataques mais graves à nossa rede. Desde antes de irmos ao ar, diziam que promoveríamos o terrorismo, que levaríamos a voz das Farc ou que éramos uma rede de campanha de Chávez'', acrescentou Izarra, que antes de assumir a direção da TeleSur foi repórter e editor nas americanas NBC e CNN.
No depoimento à justiça colombiana, Fredy Muñoz disse desconhecer totalmente os fatos dos quais é acusado. O advogado do jornalista, Tito Augusto Gaitán, pediu ao comitê local da FIJ que entidades de defesa da liberdade de imprensa façam pressão para que o caso não seja mantido na justiça regional de Barranquilla. ''Não há garantias de uma investigação transparente'', disse Gaitán.

Íntegra da carta de Fredy Muñoz da Prisão

''Caros colegas e amigos do mundo,

Mais uma vez, o jornalismo livre e crítico é agredido por aqueles que insistem em utilizar a coação, o amedrontamento, a mentira e a força para subjugá-lo. Em 19 de novembro, quando voltava à Colômbia depois de ter participado de um workshop de narrativa audivisual da TeleSur com Michael Cowgan (um jornalista da BBC da América do Norte) e Torry Zumbado (cinegrafista independente na guerra do Iraque), fui preso pelas autoridades de imigração colombianas, acusado de rebelião e terrorismo.
Esta é uma acusação que, assim como eu, centenas de jornalistas do mundo inteiro já sofreram, depois que o unilateralismo estadunidense decidiu acusar de terroristas aqueles que se opõem a ele com a razão e com argumentos, e a exaltar aqueles que baixam a cabeça, omitem seus crimes e o seguem.
Colegas e amigos, de dentro deste espaço fechado, envio minha mensagem de agradecimento a todos vocês que continuam a defender a vida e a liberdade nesta profissão necessária, e a todos mais que se a desempenham com luta ardorosa.
Que ironia que, enquanto as autoridades judiciais me fichavam por acusações muito longínquas da realidade dos meus 12 anos de exercício jornalístico, a televisão colombiana transmitia uma homenagem ao sacrificado Jaime Garzón, um jornalista cujo trabalho provocou a ira e a intolerância de um poder maligno e teimoso, entricheirada na institucionalidade de nossa pátria.
O fato é que um bom jornalista sabe apenas como dizer e divulgar a verdade; e, nos nossos sofridos países latino-americanos, a verdade é o sol que revela e remove os homens das sombras.
Colegas e amigos, obrigado outra vez por aumentarem minha voz com as de vocês. Por insistirem, ainda que estas montagens aconteçam tão freqüentemente e que apesar disso a força não decaia.
Obrigado por me ensinarem a não fraquejar, porque ''fazer jornalismo é tornar público o que não se quer que seja sabido; todo o resto é propaganda'' (Tayllerand).

Com um forte abraço,
Fredy Muñoz Altamiranda
Correspondente da TeleSur na Colômbia.''

Saiba Mais em: www.fazendomedia.com

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