Serra: Um Novo Escândalo a Cada Dia
“Fischer conseguiu dinheiro para comitê com laboratórios”
Em depoimento à Polícia Federal, Rozuíla Cunha, ex-secretária de Platão Fischer, então diretor do Departamento de Programas Estratégicos do MS, indiciado por envolvimento com vampiros, disse que ele montou comitê em apoio à Serra em 2002
Embora tenha sido alvo de inúmeras matérias publicadas nas revistas “Veja”, “Época”, “Isto É”, nos jornais “O Globo”, “Folha de S. Paulo” e outros, o inquérito da Polícia Federal nº 04.3390/2004 - que dá continuidade às investigações que desmontaram a quadrilha que atuava no Ministério da Saúde fraudando licitações, sobretudo, na área de hemoderivados - teve um detalhe, talvez o mais importante, pouco citado ou escondido: o papel de Platão José Erwin de Souza Lima Fischer Pühler, ex- diretor do Departamento de Programas Estratégicos do Ministério da Saúde. Fischer trabalhou no Ministério de maio de 1997 a setembro de 2002. Porém, o cargo que lhe deu mais poderes, ou seja, centralizar todas as compras de hemoderivados, remédios utilizados por hemofílicos, medicamentos para portadores de HIV e portadores de diabetes, que movimentava bilhões de reais, lhe foi conferido pelo então ministro José Serra.
“ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA”
As investigações da Polícia Federal que resultaram em tal inquérito mergulharam no que o delegado Marcelo Moselli chamou de “organização criminosa” que atuava no ministério. O documento ao qual o HP teve acesso descreve que uma auditoria do Tribunal de Contas da União afirma que “os procedimentos licitatórios para a aquisição de hemoderivados por parte do Ministério da Saúde, compreendendo o período de 1996 a 2002” eram dominados “pela existência de cartel entre os laboratórios”. Mais adiante, o inquérito afirma que graças ao destempero de um dos lobistas que fora prejudicado nas licitações por uma briga entre quadrilhas foi possível perceber que “além do cartel e da corrupção de servidores públicos federais, havia toda uma engrenagem criminosa movimentando o Ministério da Saúde, azeitada por Lobistas e por Políticos do Mal”. No topo dessa “organização criminosa”, segundo a PF, está Platão Fischer.
VOETUR
Depoimentos colhidos pela Polícia Federal durante a instrução mostram que Fischer dispunha de grande prestígio e muito poder diante do comando do Ministério. Essa dedicação chegou ao ponto de, em setembro de 2002, fazer com que ele solicitasse afastamento de suas funções no Ministério para dedicar-se exclusivamente à campanha para presidente da República, cujo ministro, José Serra, concorria. Neste ponto, é esclarecedor o depoimento prestado no dia 03 de março de 2006 por Rozuíla Maura Cunha, que fora secretária de Fischer na Diretoria de Programas Estratégicos. Segundo ela, Fischer “chegou a se afastar de suas atividades no Ministério da Saúde para montar um comitê eleitoral, na Asa Sul, ao que se recorda na quadra 204 ou algo assim, cujo espaço foi cedido pelo dr José, assessor de Serra na área internacional”. “Que nessa ocasião, Platão chamou a declarante (Rozuíla) para trabalhar naquele comitê por dois meses na época da eleição, para fazer campanha para José Serra; que acredita que Platão tenha conseguido dinheiro para a campanha com os laboratórios (...) e com a empresa Voetur. Que a Voetur também participou na montagem daquele comitê, inclusive forneceu telefones, estrutura para computador e compra de camisetas”. Além dos laboratórios, beneficiados no Ministério da Saúde, a empresa Voetur também é bastante conhecida da Justiça e responde por inúmeros inquéritos e auditorias por várias irregularidades cometidas em contratos com o governo, em especial, na Saúde, onde é acusada de ter sido favorecida.
Em vários depoimentos colhidos pela PF fica explícito que Platão Fischer tinha superpoderes dentro da administração do Ministério da Saúde, inclusive tendo sido protegido de investigações por parte de seu superior Barjas Negri, secretário-executivo, e pelo próprio ministro José Serra, que não instauraram medidas investigatórias depois de serem alertados por uma denúncia que ele comandava um esquema de favorecimento nas licitações.
Esse esquema de corrupção, segundo a PF, foi mantido durante muitos anos. A atuação de Platão mereceu grande destaque no inquérito da PF. Sobre o comitê, outra secretária de Platão, Abadia Francisca de Araújo, em depoimento no dia 16 de março de 2006, disse: “Que Platão saiu do Ministério, no final do ano de 2002, e o mesmo montou um comitê eleitoral pró-Serra, que o próprio Platão comentou com todos que a Voetur foi quem bancou todas as despesas daquele comitê. Que como secretária de Platão tem condições de declarar que o mesmo viajava muito para o interior do país e para o exterior com passagens pagas pelos laboratórios, sem contar o fato de que quando o Ministério da Saúde pagava tais passagens, o mesmo não as utilizava, trocando-as por dinheiro, que todos os laboratórios bancavam passagens para Platão”.
COMITÊ
Além desses dois depoimentos, de duas secretárias que viviam o cotidiano de Platão Fischer, um colega seu de partido e de ministério, atualmente locado na Prefeitura de São Paulo, Ailton de Lima Ribeiro, também confirmou a existência de tal comitê e também de que a Voetur mantinha contratos com o ministério. O depoente Ailton afirmou que “soube que Platão teria montado um comitê pró-Serra, na cidade de Brasília” e que “o ministério da Saúde tinha um contrato de prestação de serviço com a Voetur”.
O próprio Platão, em seu depoimento, reconhece a existência do comitê, mas o tratou como um local “onde se discutiam planos de saúde para subsidiar o candidato Serra”. Porém, segundo Platão, “também eram distribuídas camisetas, panfletos, broches e outros tipos de adereços que eram obtidos no comitê central do PSDB, que havia uma placa externa no imóvel, situado próximo ao restaurante Carpem Dien, informando que naquele local funcionava um comitê do José Serra”.
Platão também assume, mesmo que parcialmente, que a Voetur bancava parte dos custos do comitê: “a Voetur cedeu os telefones e também auxiliou no transporte de pessoas, utilizando veículos próprios; que durante a existência do comitê, havia um funcionário da Voetur que buscava e levava o declarante do comitê até o hotel ou outros locais que se fizessem necessários”.
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