Será Que O PSDB Não Sabia de Nada?

AddThis Social Bookmark Button

1 comentários

  • MARCOS LOURES  
    17/9/06 3:02 PM

    CANTO IV



    As trevas carcomendo todo sonho,
    As noites tenebrosas sanguinárias.
    Pesadelo vivido tão medonho...
    As ruas que perderam luminárias.
    Um grito tresloucado mais medonho;
    Expõe a carne podre, dores várias...
    Das fúnebres prisões um só lamento...
    A vida se tornando sofrimento...

    As marcas da chibata, do fuzil,
    As costas tão lanhadas, cicatrizes...
    O peito que antes fora varonil,
    Carrega descoradas tais matizes.
    A noite se quedou sobre o Brasil.
    As esperanças foram meretrizes.
    Os corpos nos galpões da ditadura.
    Testemunhas cruéis da noite escura!

    Os generais perdidos, tresloucados.
    O povo amordaçado num segundo...
    Os pobres outra vez abandonados,
    Nosso povo, alimária desse mundo...
    Os sonhos mais gentis, despedaçados.
    O corte penetrou, largo e profundo.
    Vivíamos penumbras e fantasmas,
    Dos corpos emanavam os miasmas...

    Estudantes cantando liberdade,
    As elites defendem os carrascos;
    Onde houvera esperança, crueldade.
    A revolta contida sob os cascos:
    Dos cavalos, dos donos da verdade.
    Aos céus subindo o nojo, vergonha, ascos...
    Só tínhamos certeza da vingança.
    A liberdade, nunca que se alcança!

    Nas mortes de meninos sonhadores,
    Orgulho para tétricos verdugos.
    Nos sorrisos cruéis, torturadores.
    Para o povo sequer restos, refugos.
    Nossa pátria perdida sem amores,
    Submetida, “gentil”, a podres jugos!
    Fagulhas explosivas dor remove,
    Um resto de esperança nos comove...

    Vertiginosamente tudo cai.
    As tropas derrubando sem perdão;
    A lágrima caída, o peito trai
    As sobras do que fora coração.
    A noite intransigente, nunca sai...
    Ao povo não restando solução.
    Uma mancha tenaz cobre a bandeira,
    O sangue dessa gente brasileira!

    “Pelos campos a fome”, plantações,
    Nas escolas fuzis tomando assento...
    Nas ruas, as elites, procissões.
    Nunca mais pararia tal tormento?
    A quem sonha só restam decepções.
    Decepados os pés, cessado o vento...
    Lutadores se exilam poucas ilhas,
    Alguns tentam lutando nas guerrilhas!

    Em São Paulo, o menino atento assiste,
    Frei Chico, seu irmão; um comunista.
    Um sonhador que nunca mais desiste,
    Por mais que a noite venha, que se insista.
    Um resto de esperança ali resiste;
    Esta vida, altaneira, deixa pista.
    Com olhos perspicazes um portal,
    Na batalha da luta sindical.

    O menino, já moço, inteligente,
    Percebe bem profunda essa esperança.
    Nas lutas vai buscando outra vertente;
    Da justiça mantida na lembrança...
    A sua mão cortada em acidente,
    Trabalho, metalúrgica Aliança...
    Aliança também trouxe Marisa,
    A mansa companheira, doce brisa...

    Nascia assim, o líder brasileiro.
    Testemunha real das injustiças.
    Nas veias corre sangue verdadeiro
    Das vítimas mais frágeis das cobiças.
    No peito avermelhado, tal braseiro;
    Que não teme sequer batalhas, liças...
    Mais forte então, surgia a esperança.
    Mais alto, no horizonte, a vista alcança!

    No país, atolado até o pescoço,
    Nas injustas carcaças do poder;
    Cada vez aumentando o triste fosso...
    O pobre mais faminto, quer comer!
    As balas explodiram Calabouço,
    O Sangue de estudantes a verter...
    Em Brasília distantes da verdade;
    As ordens que chegavam: crueldade!

    Nas matas d’Araguaia, a resistência,
    Caparaó, montanhas lutadoras.
    Não deixam nem sequer pedir clemência,
    As balas detonadas, matadoras.
    Os cães perderam toda a paciência;
    Cravaram suas presas sangradoras!
    Esperança manchada de vermelho,
    Mas o povo jamais dobra o joelho!

    Nos exílios, torturas, “suicídios”;
    Nas mães desesperadas, nos seus filhos,
    Em tantos vergonhosos homicídios.
    Nos olhos embaçados, parcos brilhos;
    Venenos de serpentes, maus, ofídicos.
    O sangue esparramado nos ladrilhos!
    Nosso povo sangrado, analfabeto,
    Estropiado, agônico, incompleto...

    Tantas farsas montadas nas cadeias,
    Tantos mortos deixados ao relento...
    O sangue percorrendo nossas veias;
    Levado por abutres, vai ao vento...
    Tantas luzes acesas nas candeias.
    Refletem agonia e sofrimento.
    Liberdade, pedia-se na rua.
    Dos sertões, avermelha-se a lua!

Postar um comentário