As trevas carcomendo todo sonho, As noites tenebrosas sanguinárias. Pesadelo vivido tão medonho... As ruas que perderam luminárias. Um grito tresloucado mais medonho; Expõe a carne podre, dores várias... Das fúnebres prisões um só lamento... A vida se tornando sofrimento...
As marcas da chibata, do fuzil, As costas tão lanhadas, cicatrizes... O peito que antes fora varonil, Carrega descoradas tais matizes. A noite se quedou sobre o Brasil. As esperanças foram meretrizes. Os corpos nos galpões da ditadura. Testemunhas cruéis da noite escura!
Os generais perdidos, tresloucados. O povo amordaçado num segundo... Os pobres outra vez abandonados, Nosso povo, alimária desse mundo... Os sonhos mais gentis, despedaçados. O corte penetrou, largo e profundo. Vivíamos penumbras e fantasmas, Dos corpos emanavam os miasmas...
Estudantes cantando liberdade, As elites defendem os carrascos; Onde houvera esperança, crueldade. A revolta contida sob os cascos: Dos cavalos, dos donos da verdade. Aos céus subindo o nojo, vergonha, ascos... Só tínhamos certeza da vingança. A liberdade, nunca que se alcança!
Nas mortes de meninos sonhadores, Orgulho para tétricos verdugos. Nos sorrisos cruéis, torturadores. Para o povo sequer restos, refugos. Nossa pátria perdida sem amores, Submetida, “gentil”, a podres jugos! Fagulhas explosivas dor remove, Um resto de esperança nos comove...
Vertiginosamente tudo cai. As tropas derrubando sem perdão; A lágrima caída, o peito trai As sobras do que fora coração. A noite intransigente, nunca sai... Ao povo não restando solução. Uma mancha tenaz cobre a bandeira, O sangue dessa gente brasileira!
“Pelos campos a fome”, plantações, Nas escolas fuzis tomando assento... Nas ruas, as elites, procissões. Nunca mais pararia tal tormento? A quem sonha só restam decepções. Decepados os pés, cessado o vento... Lutadores se exilam poucas ilhas, Alguns tentam lutando nas guerrilhas!
Em São Paulo, o menino atento assiste, Frei Chico, seu irmão; um comunista. Um sonhador que nunca mais desiste, Por mais que a noite venha, que se insista. Um resto de esperança ali resiste; Esta vida, altaneira, deixa pista. Com olhos perspicazes um portal, Na batalha da luta sindical.
O menino, já moço, inteligente, Percebe bem profunda essa esperança. Nas lutas vai buscando outra vertente; Da justiça mantida na lembrança... A sua mão cortada em acidente, Trabalho, metalúrgica Aliança... Aliança também trouxe Marisa, A mansa companheira, doce brisa...
Nascia assim, o líder brasileiro. Testemunha real das injustiças. Nas veias corre sangue verdadeiro Das vítimas mais frágeis das cobiças. No peito avermelhado, tal braseiro; Que não teme sequer batalhas, liças... Mais forte então, surgia a esperança. Mais alto, no horizonte, a vista alcança!
No país, atolado até o pescoço, Nas injustas carcaças do poder; Cada vez aumentando o triste fosso... O pobre mais faminto, quer comer! As balas explodiram Calabouço, O Sangue de estudantes a verter... Em Brasília distantes da verdade; As ordens que chegavam: crueldade!
Nas matas d’Araguaia, a resistência, Caparaó, montanhas lutadoras. Não deixam nem sequer pedir clemência, As balas detonadas, matadoras. Os cães perderam toda a paciência; Cravaram suas presas sangradoras! Esperança manchada de vermelho, Mas o povo jamais dobra o joelho!
Nos exílios, torturas, “suicídios”; Nas mães desesperadas, nos seus filhos, Em tantos vergonhosos homicídios. Nos olhos embaçados, parcos brilhos; Venenos de serpentes, maus, ofídicos. O sangue esparramado nos ladrilhos! Nosso povo sangrado, analfabeto, Estropiado, agônico, incompleto...
Tantas farsas montadas nas cadeias, Tantos mortos deixados ao relento... O sangue percorrendo nossas veias; Levado por abutres, vai ao vento... Tantas luzes acesas nas candeias. Refletem agonia e sofrimento. Liberdade, pedia-se na rua. Dos sertões, avermelha-se a lua!
17/9/06 3:02 PM
CANTO IV
As trevas carcomendo todo sonho,
As noites tenebrosas sanguinárias.
Pesadelo vivido tão medonho...
As ruas que perderam luminárias.
Um grito tresloucado mais medonho;
Expõe a carne podre, dores várias...
Das fúnebres prisões um só lamento...
A vida se tornando sofrimento...
As marcas da chibata, do fuzil,
As costas tão lanhadas, cicatrizes...
O peito que antes fora varonil,
Carrega descoradas tais matizes.
A noite se quedou sobre o Brasil.
As esperanças foram meretrizes.
Os corpos nos galpões da ditadura.
Testemunhas cruéis da noite escura!
Os generais perdidos, tresloucados.
O povo amordaçado num segundo...
Os pobres outra vez abandonados,
Nosso povo, alimária desse mundo...
Os sonhos mais gentis, despedaçados.
O corte penetrou, largo e profundo.
Vivíamos penumbras e fantasmas,
Dos corpos emanavam os miasmas...
Estudantes cantando liberdade,
As elites defendem os carrascos;
Onde houvera esperança, crueldade.
A revolta contida sob os cascos:
Dos cavalos, dos donos da verdade.
Aos céus subindo o nojo, vergonha, ascos...
Só tínhamos certeza da vingança.
A liberdade, nunca que se alcança!
Nas mortes de meninos sonhadores,
Orgulho para tétricos verdugos.
Nos sorrisos cruéis, torturadores.
Para o povo sequer restos, refugos.
Nossa pátria perdida sem amores,
Submetida, “gentil”, a podres jugos!
Fagulhas explosivas dor remove,
Um resto de esperança nos comove...
Vertiginosamente tudo cai.
As tropas derrubando sem perdão;
A lágrima caída, o peito trai
As sobras do que fora coração.
A noite intransigente, nunca sai...
Ao povo não restando solução.
Uma mancha tenaz cobre a bandeira,
O sangue dessa gente brasileira!
“Pelos campos a fome”, plantações,
Nas escolas fuzis tomando assento...
Nas ruas, as elites, procissões.
Nunca mais pararia tal tormento?
A quem sonha só restam decepções.
Decepados os pés, cessado o vento...
Lutadores se exilam poucas ilhas,
Alguns tentam lutando nas guerrilhas!
Em São Paulo, o menino atento assiste,
Frei Chico, seu irmão; um comunista.
Um sonhador que nunca mais desiste,
Por mais que a noite venha, que se insista.
Um resto de esperança ali resiste;
Esta vida, altaneira, deixa pista.
Com olhos perspicazes um portal,
Na batalha da luta sindical.
O menino, já moço, inteligente,
Percebe bem profunda essa esperança.
Nas lutas vai buscando outra vertente;
Da justiça mantida na lembrança...
A sua mão cortada em acidente,
Trabalho, metalúrgica Aliança...
Aliança também trouxe Marisa,
A mansa companheira, doce brisa...
Nascia assim, o líder brasileiro.
Testemunha real das injustiças.
Nas veias corre sangue verdadeiro
Das vítimas mais frágeis das cobiças.
No peito avermelhado, tal braseiro;
Que não teme sequer batalhas, liças...
Mais forte então, surgia a esperança.
Mais alto, no horizonte, a vista alcança!
No país, atolado até o pescoço,
Nas injustas carcaças do poder;
Cada vez aumentando o triste fosso...
O pobre mais faminto, quer comer!
As balas explodiram Calabouço,
O Sangue de estudantes a verter...
Em Brasília distantes da verdade;
As ordens que chegavam: crueldade!
Nas matas d’Araguaia, a resistência,
Caparaó, montanhas lutadoras.
Não deixam nem sequer pedir clemência,
As balas detonadas, matadoras.
Os cães perderam toda a paciência;
Cravaram suas presas sangradoras!
Esperança manchada de vermelho,
Mas o povo jamais dobra o joelho!
Nos exílios, torturas, “suicídios”;
Nas mães desesperadas, nos seus filhos,
Em tantos vergonhosos homicídios.
Nos olhos embaçados, parcos brilhos;
Venenos de serpentes, maus, ofídicos.
O sangue esparramado nos ladrilhos!
Nosso povo sangrado, analfabeto,
Estropiado, agônico, incompleto...
Tantas farsas montadas nas cadeias,
Tantos mortos deixados ao relento...
O sangue percorrendo nossas veias;
Levado por abutres, vai ao vento...
Tantas luzes acesas nas candeias.
Refletem agonia e sofrimento.
Liberdade, pedia-se na rua.
Dos sertões, avermelha-se a lua!