Esperança Virando Realidade - CANTO III
Por Marcos Loures
Brasil, em teus contrastes, tanta luta...
A mão que acaricia é logo morta,
Em teus sonhos, polui a força bruta.
Calam sempre quem tenta abrir a porta.
Conselheiro, Canudos. Funda a gruta
Onde enterram teus sonhos, vida torta...
Trucidaram Getúlio, esses farsantes...
Só o tempo revela tais gigantes!
De Minas aparece um sonhador...
D´outras terras famintas das Gerais,
Um médico, mas também um cantador,
Peixe vivo não canta nunca mais...
No Planalto central plantou u´a flor,
Ninguém esquecerá dele, jamais...
Tantas vezes maldito para os vermes,
Nas batalhas, surgia um novo Hermes!
Elites brasileiras são gulosas;
Não permitem ao pobre nem um sonho...
Não querem ver nascer jardins e rosas,
Onde sempre viveu povo tristonho.
As plagas brasileiras maviosas,
Divididas serão sonho medonho!
Matam, destroem, colhem sem plantar,
As roças dos famintos. Explorar!
Nosso sangue só serve: transfusão!
Nossas filhas só servem para a cama,
As mulheres sagradas, sem perdão,
Acendem todo dia nova chama;
A chama desse forno, do fogão...
De resto, só nos resta então a lama...
Analfabetos, simples brasileiros,
Para eles, somos palha nos palheiros!
Deus, permita em tua glória, meu Pai,
Que nosso massacrado povo tenha,
Algo mais que essa chuva que descai.
Que não seja madeira, pó e lenha,
Acesos nos porões onde se trai
As lutas que marcaram. Ó Pai, venha
Dar alento aos sofridos pequeninos,
Nas mãos desses meninos, desatinos...
Não permita que matem o botão,
Não deixe que torturem quem não fere,
A marca da pantera, solidão...
As noites que surgiram, dor confere,
As luas que brilharam no sertão,
Não deixe que se morra nem que espere,
Os humildes precisam de comida,
Trabalho dignidade, enfim, de VIDA!
O povo que escolheste para a glória,
Não pode perecer sem esperanças,
As mortes que sofremos, velha História,
Não podem macular nossas crianças,
Que nunca mais percamos, na memória,
As dores que curtiram as lembranças...
Nos passos desses velhos sofredores,
Derrame tua glória, tuas flores!
Brasil, filho do branco, índio e do preto,
Num povo glorioso, vira lata,
Das festas, carnavais e do coreto,
As costas já lanhadas na chibata,
No sonho de igualdade que me meto,
Um Eldorado novo, d´ouro e prata!
Traduzo em pão e vinho, nossa luta,
Onde estás meu Senhor, que não me escuta!
O menino nordestino engraxate,
As dores por herança, mas não cansa,
Tanta fome rondando, faz biscate,
Para ver se a miséria não alcança...
Um coração pequeno, teima e bate,
Sem nunca desistir dessa esperança!
Cresce menino, o tempo não irá
Deixar de seguir, nunca vai parar...
Escola, mãe zelosa, traz futuro,
Emprego necessita profissão,
Tão difícil transpor um alto muro,
Faculdade? Doutor? Uma ilusão...
Melhor do que tentar salto no escuro,
Não podendo voar, os pés no chão...
O que fazer então? Um brasileiro
Se forma, metalúrgico torneiro...
Enquanto isso, Brasília a capital,
Dos sonhos dum mineiro diamantino,
Construída, Planalto bem central,
Coração do Brasil, d´outro menino,
É possível, falaz, isso é real!
As mãos tão delicadas do destino,
Iriam transformar a realidade.
Esperança traduz felicidade!
Porém, a vida trouxe tempestades,
Piores que pensavam pessimistas,
Nos campos, pelas ruas e cidades,
Mataram, torturaram, sequer pistas;
Tantos breus esconderam claridades,
A voz calada, sangram os artistas...
Esperança brotava no começo,
Mas a dor salpicou, criou tropeço...
O Brasil que pensava, enfim, sonhar,
Reformas necessárias planejadas,
Brilhava, enfim, um belo, bom luar,
Esperanças parecem vir raiadas,
O povo pensava enfim em cantar,
O sol a percorrer novas estradas...
Mas a mão das elites é pesada,
Destrói feroz, não deixa quase nada!
Elegeram um louco presidente
Que, tentando tornar-se ditador,
Num dia, sem porque, nem que se tente
Explicar, tal boçal conservador,
Deixando a todo mundo, toda gente,
Boquiabertos; renúncia traz torpor!
Os mesmo que mataram velho Vargas,
Novamente detonam suas cargas...
E tentam impedir essas mudanças,
Que poderiam dar uma igualdade.
Tentaram proibir as novas danças,
Lutaram contra a nossa liberdade,
Fizeram tantas torpes alianças,
Vedaram desse céu a claridade...
Fizeram plebiscito pra calar,
Mais forte, nosso povo foi gritar!
Os tanques invadiram nossas praças,
As ruas se transformam num deserto,
Montaram diferentes, velhas farsas,
Mentiras inverdades, longe e perto,
As vozes duma treva nas trapaças,
A noite devorando, o chão aberto,
Tragando quem pensava e não queria,
Satanás delirava nessa orgia!
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