Entrevista com o Geraldo

Por Marcos Loures

CASCAVEL - O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, passou por um grande susto na madrugada deste sábado, no final do "Entrevista Coletiva", programa da TV Tarobá, em Cascavel. O motivo foi um incêndio num estúdio próximo onde ele estava, a transmissão foi interrompida antes do final. Ninguém ficou ferido, apesar do tumulto. O incêndio começou no estúdio 21 e não atingiu as dependências onde Alckmin estava. A causa ainda não foi apurada. A energia foi cortada e houve um corre-corre das pessoas que queriam deixar rapidamente o prédio da televisão. O pré-candidato saiu e foi levado para o aeroporto, partindo para São Paulo por volta da 1 hora da madrugada. O retorno já estava marcado antecipadamente para esse horário. O único pedido que se ouvia no meio da confusão era o de calma. Mas todos que estavam no estúdio queriam sair o mais rápido possível. Caminhões do Corpo de Bombeiros foram chamados e o incêndio controlado depois que Alckmin já tinha ido embora.

Quando as coisas não dão certo, tudo parece contribuir para isso.Logo agora que o candidato tucano disse que precisaria colocar lenha na fogueira para tentar incendiar a eleição, acontece isso.Alckmin, depois de ter sido barrado no forró, agora incendeia literalmente os estúdios de um canal de televisão.E olha que seu apelido é picolé de chuchu, algo bastante gélido para ter efeito tão devastador.Além do que, pelo desenrolar dos últimos acontecimentos, já se espalha sua fama de pé-frio.
Imaginando a cena, tento transcrever para o papel, embora saiba o quanto que isso é difícil.

Vamos a ela:

Repórter - Estamos aqui, direto de Cascavel com o candidato à Presidência da Republica, senhor Geraldo Alckmin. E aí Dr. Geraldo, o Sr. acha que as Copa do Mundo pode esfriar um pouco o calor da disputa eleitoral?
Candidato - Caros telespectadores acredito que se o Brasil não for campeão, a culpa deve ser investigada e, garanto que o fato do Presidente Cínico ter chamado o Ronaldo de gordo, pode ter um aspecto bastante negativo, podendo gerar uma insatisfação no elenco, o que pode causar a perda do Hexa, e isso será por culpa do Lula.

Repórter - O que o senhor achou da invasão do MLST ao Congresso?
Candidato - Isso mostra a ineficiência do Governo Federal e o clima de desgoverno criado pela impunidade, a partir do mensalão que demonstra o grau de corrupção desse Governo, o maior da história do Brasil.

Repórter - E sobre o PCC?
Candidato - Não sei do que o senhor está falando. Pergunte isso ao Lembo, afinal ele está lá para isso.

Repórter - É verdade que o senhor foi avisado de que haveria uma revolta e esse massacre do dia das mães?Candidato - Eu não sei de nada, não vi, não ouvi, não sei de nada!

Repórter - E a respeito do desvio de dinheiro da Nossa Caixa para deputados da base aliada.
Candidato - O quê que eu tenho com isso? Isso é coisa do Palocci.
Repórter - Não, Governador, eu não estou falando da Caixa Econômica não, falo da Nossa Caixa de São Paulo.
Candidato - Ué, eu não sabia que São Paulo tem esse banco não, se desviaram é coisa do Maluf...

Repórter - E as roupas da dona LU?
Candidato - Isso é mentira da oposição! O que eu sei é que apareceram lá em casa uns trapos, que a mulher estava doando para um grupo de costureiras para fazer uma colcha de retalhos. Daí a dizer que eram roupa de costureiro caro, eu não sei. A moda muda a cada dia...

Repórter - E o fato do senhor ter sido barrado no baile?
Essa foi demais, a cabeça inchada, quente, já começando a se exasperar Alckmin responde;
- Me recuso a responder. Eu não tenho culpa do segurança ser analfabeto.
Nessas alturas do campeonato, o repórter anuncia preocupado.
- Não fique tão nervoso, Sr. Geraldo, estou sentindo um cheiro de alguma coisa queimando, e não é cheiro de chuchu cozido não.
Irritado, Alckmin ameaça encerrar a entrevista, quando se ouve o corre corre.
Gente gritando para todos os lados e a fumaça espalhando no estúdio.Nesse momento, a assessoria do candidato invade a cena e retira-o, mesmo sob os protestos do próprio candidato.Afinal picolé e pé frio não precisa temer incêndio não. E, afinal, tucano voa, mesmo que não seja nas pesquisas, voa...

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2 comentários

  • MARCOS LOURES  
    12/6/06 10:18 PM

    Uma das máximas de Voltaire dizia que, “embora não concorde com nada do que dizes, lutarei até a morte pelo direito de dizê-las”.
    Essa é uma das mais belas traduções de democracia que temos. Porém, o que vejo, espantado, surgir nesses tempos é a figura da “direita raivosa”.
    As reações, geralmente anônimas, a qualquer afirmativa que contrarie os “ideais” dessa turma são de baixíssimo nível, de uma agressividade comparável a de uma “esquerda raivosa” do passado.
    Qualquer afirmativa que seja de apoio ao governo atual significa para a anencéfala turba que quem a faz é ladrão, corrupto, sem vergonha, canalha. Como se defender os desmandos dos desgovernos anteriores fosse indício de honradez.
    As postagens feitas sem nenhuma argumentação lógica, são torpes e inúteis.
    Ainda mais quando anônimas, pois de anônimo não tem dono.
    Essa tentativa cômica de tentar inibir os pensamentos contrários é infantil e demonstra a imaturidade tanto de argumentos quanto da capacidade de exercer corretamente a cidadania.
    Me recordam as “argumentações” feitas nos programas cults como os que envolvem os famosos “testes de DNA”. Isso é de um primarismo relevante.
    Mas, pior que isso é, quando do lançamento da candidatura do Dr.Geraldo, esse ter sido o tom dos discursos.
    Se for essa a tônica predominante da campanha eleitoral, a situação pode descambar para o ridículo, a ponto de termos que assistir uma inepta luta sobre o nada, com tantas intervenções do TSE, que corremos o risco de termos os horários gratuitos completamente tomados pelos “direitos de defesa”.
    Cabe lembrar que, se formos denunciar cada CPI arquivada pelo governo tucano, teremos mais de uma por dia. Vai faltar horário para tanta denúncia.
    O livre pensar é só pensar; já as ofensas sem pé nem cabeça, principalmente a quem não conhecemos e com quem não convivemos, escondidas sobre pseudônimos ou mesmo inonimadas são inválidas e atestam a incapacidade de conviver com o diverso.
    Resumindo, demonstra a intolerância típica dos imbecis ou dos autistas.
    Antes que se sintam ofendidos, procurem a definição médica de imbecilidade e de idiotia, ou mesmo de cretinice.
    Acredito ser de bom tom uma melhor avaliação das relações interpessoais e do respeito à opinião alheia.
    Aceitar as críticas é conviver, quanto às ofensas é perdoar.
    “Perdoe-os, meu Pai, eles não sabem o que fazem”.
    Quanto à direita raivosa, meus parabéns, vocês aprenderam com a esquerda tão raivosa e imbecil quanto.
    Por isso, é bom repetir o provérbio árabe: “Os cães ladram e a Caravana passa”.

  • MARCOS LOURES  
    12/6/06 11:14 PM

    Fracasso de audiência
    De O Globo, hoje:

    "Ao contrário do que a cúpula do PSDB esperava, a oficialização da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência não conseguiu entusiasmar a militância do partido na festa preparada pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. O auditório da ExpoMinas, com capacidade para 4.500 pessoas, em nenhum momento ficou lotado e durante o discurso de 19 páginas lido por Alckmin o público presente ficou reduzido quase que à fila do gargarejo".

    A maioria das pessoas que empunhavam bandeiras de Geraldo Alckmin na convenção admitiu ter ouvido o nome do candidato tucano à Presidência pela primeira vez. Levadas a Belo Horizonte de ônibus, disseram que a viagem foi motivada pelas promessas de lanche grátis e de emprego na campanha.


    No meio da platéia, estava dona Jurema, uma senhora que acabou de adentrar a bela casa dos setenta anos.
    Politiqueira desde a juventude, daquelas que adora portar a bandeira de um candidato, levando com fé e afinco a “profissão” de cabo eleitoral.
    Participara, nos bons tempos, da campanha de Juscelino ao Governo de Minas e depois à presidência da república.
    Lembrava-se de Tancredo, Magalhães Pinto e isso a deixava arrepiada só de pensar.
    Trabalhara na campanha de Israel Pinheiro e depois tivera certa amizade com Rondon Pacheco; sendo amiga íntima de Itamar Franco e de Aécio Neves.
    E é por isso que fora para essa festa além, é claro, da possibilidade de “ganhar uns trocados” como experiente “caçadora de votos”.
    Mineiramente, se aproximou de um conhecido e perguntou quem era o moço que ela devia apoiar.
    Esse também não sabia; mas, seu Juca, velho companheiro de comícios e de carreatas, mostrou o candidato.
    Era um careca narigudo, de óculos, parecido com aquele repórter da televisão que trabalha com aquela moça loura, grandona...
    “Mas esse moço não tem cara de político não, seu Juca. Como é o nome dele?”
    “Geraldo”. Respondeu o companheiro.
    “Nunca ouvi falar. Ele fez o que?”
    “Foi Governador de São Paulo”.
    “Mas não era o Maluf?” perguntou dona Jurema.
    “Isso faz tempo, esse é o atual.”
    Olhando bem para a cara do sujeito, dona Jurema, desconfiada, ficou quieta.
    Esperar ele falar primeiro para depois julgar, quem vê cara não vê coração.
    Depois que o moço começou a falar, pausadamente, com aquele jeito de quem está cansado; dona Jurema, que era uma das primeiras da fila, foi se afastando, disfarçadamente.
    O cachorro quente com ki-suco que deram para o pessoal comer, não caiu bem, e a sonolenta fala do candidato, foram dando um sono tão profundo na velha senhora que, sem que ninguém percebesse, ela resolveu voltar para o ônibus e começou a dormir.
    Começou a se lembrar dos discursos inflamados de Juscelino que ouvira na juventude, foi dando uma saudade doida.
    E dormiu, e sonhou, e sonhou e dormiu.
    Quando acordou, duas horas antes, ficou preocupada. Será que o moço ainda estava falando?
    Olhou para o lado e viu que várias pessoas tinham seguido seu exemplo e voltado para o ônibus.
    Resolveu, então, voltar para o auditório a tempo de ouvir as últimas palavras do candidato.
    Profissionalmente, assim como quase todos que estavam ali, aplaudiu e cantou as hip hurras de praxe.
    Mas desta vez, ao contrário de tantas outras, saiu com a mesma impressão com a qual chegou.
    Aquele moço disse muito, falou muito e não disse nada.
    “Aecinho, você me paga, colocar a gente numa furada dessas!” Pensou a setuagenária senhora.
    Mas, como o cachorro quente e o ki-suco, além da camiseta e do emprego estavam garantidos, nada falou.
    Afinal cavalo dado, não se olha os dentes, mesmo que o cavalo seja banguela!

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