De Guetos e Ilhas

Por: Marcos Loures

Interessante como as diferenças entre as grandes e pequenas cidades se tornam evidentes quando o assunto é a pobreza. O contato da classe dominante com a miséria nas cidades pequenas é imediato, através do dia-a-dia, da própria vizinhança física e cultural. Muitas vezes a própria escola, que na maioria dos pequenos municípios é exclusivamente pública, traz a convivência entre esses mundos e, nesse contato as crianças e adolescentes passam a entender e diferenciar pobreza de desvio de caráter ou insignificância. Temos, nesses contatos uma coisa extremamente salutar, ao contrário do que ocorre nas grandes cidades; onde a diferenciação se torna absurda e abismal. Um menino criado num bairro de classe média alta, como o Morumbi, por exemplo; tem uma visão das diferenças sociais como uma coisa gigantesca; criado, muitas vezes, até com medo da pobreza, como se tal coisa fosse uma ameaça à sua vida burguesa. Não falo sobre esse sentimento com uma visão preconceituosa não; esse fato é real, e facilmente observável no cotidiano. Uma criança de classe média, quando tem contato com os desvalidos, apresenta medo como reação natural, qual Buda, em seu contato com os miseráveis; já que a diferenciação urbana se aproxima das castas indianas. Esse contato se torna extremamente difícil, a partir do fato de que são raros e, quase sempre servis, o contato da patroa com a faxineira é puramente ligado ao trabalho, as culturas são extremamente diferentes. Não estou falando sobre cortesia e educação; essas são características individuais, porém ao nível de grupo social, essa diferença se torna evidente. Me lembro, enquanto estudante universitário, no curso de medicina da UFRJ, tal diferenciação ocorria, me sentindo discriminado, muitas vezes; ao ser tratado com certo preconceito por ser pobre, interiorano e não usar as roupas da moda. Ao perceber essa diferenciação, consigo entender a dificuldade da burguesia, aprisionada em suas ilhas, de compreender e entender o quanto é importante o resgate de uma cidadania por esses segmentos maioritários em quantidade e minoritários em relação à representatividade social. A associação da cultura popular com a contravenção é, na cabeça dessa burguesia, um fator de dissociação cada vez mais evidente. Na minha época, assim como o funk de hoje, o pagode era associado ao crime organizado.
Essa visão preconceituosa se demonstra, claramente no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo menos em duas oportunidades: na entrevista dada a Jô Soares e na declaração sobre os aposentados, chamados de vagabundos.
Acredito que a burguesia, atada a suas ilhas, só vai compreender o que está ocorrendo, quando for atendida pelos médicos, advogados, dentistas, professores, etc... oriundos dos guetos; daí, quem sabe, vão começar a entender e aceitar que maravilha que é o socialismo de fato.
A própria imprensa, quando coloca textos como os que afirmam que Alckmin vai ao Nordeste em busca da colheita dos votos apadrinhado pelos coronéis, demonstra o quanto a mídia se distanciou do pobre.
Na roça, todo mundo sabe, que para colher é preciso plantar e o governo anterior plantou o quê? Fome, miséria e desesperança, agora quer colher votos?!
Outra atitude canalha é vincular o crescimento de Lula somente às classes mais desvalidas; isso é de uma ignorância política absurda.
O crescimento de Lula se deve, basicamente a boa qualidade de seu governo aliada a total falta de perspectiva detectada pelo povo, nos outros candidatos, que usando a própria imagem utilizada pela oposição, caem num efeito dominó espantoso.

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3 comentários

  • MARCOS LOURES  
    6/5/06 9:36 PM

    Dos delírios de Sílvio Pereira ao Milagre de Garotinho.

    Tivemos, nesse final de semana, uma entrevista de Sílvio Pereira ao jornal O Globo, onde pela própria descrição da jornalista, o mesmo entrou em surto psicótico depois de oito horas de conversa, quebrando tudo que aparecia pela frente, numa atitude de demonstração cabal de desequilíbrio emocional total, provocados, talvez pelo anonimato e pela sensação do mesmo de necessidade de, criando um fato novo, estar de novo na mídia, ou a impressão da paranóia típica dos psicóticos, com medos e angústias imaginários.
    Até que ponto, uma pessoa totalmente fora de controle deve ser levada a sério?
    Até que ponto, deve-se tomar o depoimento de um tresloucado? Cabe a uma junta de psiquiatras analisá-lo para poder saber se realmente, essa pessoa tem condições de poder depor a uma CPI que, por si só, é extremamente extenuante e pode criar fantasmas e demandas inexistentes.
    Numa visão mais absurda, poderíamos tomá-lo como possesso, endemoniado mesmo, e isso se traduz nas atitudes desesperadoras e incoerentes de alguém que, resolve da noite para o dia denunciar fatos sem citar provas e jogando excrescências num ventilador que diminuia a velocidade, isso é atitude de alguém tomado por entidades estranhas, segundo a linha dos mais radicais, religiosamente falando.
    Pois bem, Baby dizia que estava a espera de um “MILAGRE”, portanto um ato divino, para que ele pudesse salvar a sua candidatura, e reconheceu na possessão demoníaca de SILVINHO, o milagre esperado.
    Deixa-me ver se entendi; o milagre que Baby esperava era qual?
    Feito por quem? Isso é muito estranho, ou errei o milagre ou errei a entidade ou errei o Baby!?
    Hoje, dia 6 de maio se comemoram 150 anos do nascimento de Freud, mas essa história toda NEM FREUD EXPLICA!!!
    ISSO É UM DESAFIO À MINHA VÃ CONSCIÊNCIA.

  • MARCOS LOURES  
    6/5/06 10:43 PM

    No amor divino e difícil do homem pelo homem, do perdão às ofensas e injúrias, da mansidão ao enfrentar as feras incontidas.
    Nesse clamor diário pela justiça, embaçada e ofuscada pelos poderosos, tratantes e facínoras.
    Nossa luta nunca deve descansar, nem pode, pois é nosso ar, nosso rumo e prumo, nossa atitude perante a vida, nunca pode ser contida ,nem pode esperar; ela é coerentemente combativa e ativa; hiperativa mesmo, pois traduzirá por onde irá o amanhecer.
    Nos nossos ídolos e heróis imolados e estrangulados pelas bestas feras do passado, do presente e que virão; pelo intransigente amor ao homem, devemos nos preparar para a batalha.
    Para meus filhos, em cujos trilhos haverá mais brilho, mais atino, melhor destino...
    Meninos que crescem com a espera do dia seguinte, nada mais que o perdão pelos nossos erros e pelas mazelas que tentamos mitigar.
    Dói a luz da dor aos olhos que teimam em não enxergar, mas logo passa, a vida recomeça e a mão volta a maltratar os que não tem pés, nem pernas livres; atados que são na corrente eterna da escravizadora injustiça.
    O sacrifício de milhares de crianças nos guetos e favelas, somente passam e não alcançam; a dor dos homens é o mote das “caridades” aos domingos, nas preces fingidas de quem não conhece e, pior, teme o cheiro pútrido das vielas infestadas dos cadáveres insepultos dos números das estatísticas, da dor física e da malidição dos flagelados.
    Não digo que sejam abutres, nem isso são, somente representam o acaso, o sem querer, o nada ver e, se ver, nada fazer, passar de viés, através da ponte que criam sobre os mortos-vivos.
    O mar de mártires diários, nos campos famintos nordestinos e mineiros, nos vales dos vários Jequitinhonhas, nos agrestes e sertões, nada representam senão um olhar de banda, por cima de tudo, inatingível.
    É cabível outra sina? É possível outro tema? Quando a saga dos sem sangue, anêmicos, devorados por dentro e por fora pelos parasitas inconsequentes e vorazes, percorre as ruas, as janelas se fecham, o corpo estremece e o coração teme, tremem os velhos e meninos bem vestidos, os cães ladram e mordem, arrancam e devoram aquela carne em decomposição em plena vida.
    Devemos lutar pelos inválidos e desvalidos, apáticos e agônicos, na sinfonia do planeta terra, da terra brasilis, do umbigo humano, eterno cordão que nos ata à Terra, mãe genereosa, filhos ingratos e agressivos, filhos ambiciosos, mesmo que cientes, inconsequentes na volúpia devoradora, devastadora, destruidora de tudo.
    Mudo não fico, me inundo de brios, meus fios acendo, ascendo a Marte, a São Jorge, a Ogum, na luta diária, com a mansidão de um Betinho, com o carinho de Irmã Dulce, mas também com a fúria de um Guevara, varas e carícias à mercê de minha batalha.
    Vamos, irmãos, não deixemos cair no olvido, o telhado de zinco, o barraco de sapé, o bicho de pé e as lombrigas das almas.
    Vamos em rumo ao SOCIALISMO, nosso canto e rito, nosso sonho bendito, nosso porvir e visão.
    Nosso alento e alimento, nosso rumo e cimento, nossa consagração.
    Sangrando as mãos, se preciso, num ato conciso e fortemente cristão.
    Nosso chão e teto, escada e cometa, nossa promessa de dádiva, de vida , na profecia bendita, desse mar de agora, mar de podres injustiças, com o nosso começo, sem tropeço, sem medos, virar um sertão; e o sertão da miséria, da fome que impera, com a nossa luta, nossa batalha, num momento de glória, virar um maravilhoso mar de amor, de louvor à vida, na multiplicação dos pães, no sangue revivido, compartilhado, numa cadência maviosa, de piedade e justiça, de caridade sem cobiça, do homem irão do homem.
    Não vamos perder esse momento, onde o início de tudo isso se torna nossa luz.
    Obrigado Jesus, por ter me dado esses dias, onde vislumbro alegrias ao povo sofrido, onde o grito contido, possa se transformar numa canção de amor e fé.
    Teu Evangelho, pro velho, pro menino, pros pobres miseráveis, pros sem esperança, pros que não tinham teto, comida ou afeto; para quem, de concreto, a vida só deu os pés cansados e descalços, as mãos calejadas e vazias; os olhos opacos e sem rumo, esse teu Evangelho começa a ser transformado, devagar, mas constantemente, no vagar das olas , nos cadernos e livros, no renascer dos brilhos dos filhos e nos fios da energeziante e contagiante glória dos nossos rebentos; arrebatando e arrebentando as correntes.
    No cheiro gostoso da boca que come, dos antes dementes, que agora pressentem o final dessa estrada que, se um dia não em deu em nada, cada vez mais traduz alegria.
    Tenho comigo, os gritos da morte, as crianças esquálidas e invalidadas pelas cordilheiras desabadas, flores rasteiras, condenadas ao nada.
    Nos hospitais e necrotérios, tenho ainda vívido esse grito, o aflito desespero da fome.
    Se houver entre nós, alguma dignidade, e creio que esse é o nosso maior legado, NÃO PODEMOS DESCANSAR NUNCA DESSA BATALHA.
    ELA É O OXIGÊNIO QUE CIRCULA PELOS NOSSOS VASOS SANGUÍNEOS.
    É O QUE NOS PERMITE DIZERMOS QUE SOMOS CAPAZES DE NOS CONSIDERARMOS, REALMENTE HOMENS.
    Por fim, sem delongas, ponho meus olhos na primavera, e nela espelho o reflexo dos sonhos, amanhã, os frutos benditos do SOCIALISMO.
    Que Deus nos ilumine e nos dê forças para a LUTA.

  • Anônimo  
    7/5/06 9:03 PM

    A impressão que fica sobre Sílvio Pereira é a de um homem desesperado, percebendo o seu ostracismo, legado de seu envolvimento com fatos inexplicáveis; não estou falando de esquema de caixa 2, não,
    Falo do caso do “presentinho” recebido, o brinquedinho caro que estava na garagem de sua casa.
    O caso é, no mínimo, imoral, para não dizer coisas mais pesadas; já que não se admite esse tipo de “presentes” para pessoas públicas, e o secretário geral de um partido político o é.
    Tal qual Delúbio, cuja vida profissional em Goiás ficou muito mal explicada, dando indícios da capacidade de atuações ambíguas com relação a moral e ética; Sílvio foi pego num ato de gravíssima índole.
    Todos os pecados partidários nada seriam em comparação a esses indícios. Da mesma forma que creio que José Genoíno é inocente, visto que sua vida pregressa o exime de qualquer ato de corrupção ou amoralidade; assim como acredito em Eduardo Suplicy, Mercadante, entre outros...
    Já com relação ao destempero de Sílvio, isso leva a crer que este está totalmente deprimido, podendo ser que os resquícios de dignidade que habitam seu superego tenham gerado esta aparente loucura.
    O fato de ter que chamar a atenção nessa auto-tortura, tentando explicar-se de qualquer forma, sobre o tema que, na verdade não é o crucial nos seus atos, já que em nada da CPI, seu envolvimento foi cabalmente comprovado, tentando desviar o foco de seus pecados, para um “pecado” coletivo, do qual ele, aparentemente, não foi peça importante.
    Já as atitudes de Delúbio, bem mais serenas e pragmáticas, demonstram o equilíbrio deste, capaz de aguentar agressões e ironias, silenciosamente; inclusive com insinuações injuriosas à sua própria família, como as feitas por Heloísa Helena na época dos depoimentos na CPI dos correios.
    Sílvio Pereira, pelos relatos demonstrados na entrevista, nada acrescenta, somente repete o que foi publicado, e chega a dizer que Delúbio não tinha noção de quem iria sacar o dinheiro do caixa 2; isso parece ser totalmente incongruente e falso, já que, consta que era Delúbio quem indicava quem iria receber.
    Quanto ao fato de citar empresas e omitir nomes, é a velha história do “alguém me disse, não sei quem e nem onde”; ou seja no popular : boato ou fuxico.
    Marcos Valério queria 1 bilhão de reais, eu quero mais, o meu vizinho quer muito mais e o Cacciola, mesmo sem querer, somente pedindo, levou 1 bilhão e meio.
    Sílvio delira, e nesse delírio deve ser tratado com muito cuidado e carinho; seu caso É PSIQUIÁTRICO, claramente um processo de auto-punição que é um bom sinal; demonstra que, no fundo ele está arrependido do fato de ter recebido o “presentinho” de grego, seu Baton na Cueca; pelo menos mais valioso que a Elba de Collor.
    Quando a CPI dos bingos diz que sua convocação será para essa semana, é preciso termos cuidado, até que ponto vale a pena agravar os sintomas de um doente, a troco de palanque eleitoreiro que será inútil
    Até que ponto deveria ser tratado, não como uma denúncia, já que essa não tem suporte probatório, e as declarações inconstantes e inconsequentes, são a esmo, e sim como um sintoma grave e doentio.
    Pobre Sílvio Pereira, pobre sim, meus companheiros; o que urge é salvá-lo enquanto homem, tratá-lo e recuperar, para o bem dos seus, esse homem adoentado e deprimido.
    Os males que poderá causar não são ao Governo nem ao PT, mas a sim mesmo.
    Essa história, associada com a deprimente atitude de Garotinho, demonstrativa do despreparo emocional e político deste; me dão a certeza de que nesse sesquicentenário do nascimento de Freud, o negócio tá feio.
    Cabe aos poucos lúcidos que resistem no cenário político brasileiro, uma atitude mais coerente; a loucura está imperando.
    Vemos o despreparo para o poder de uma Lu Alckmin, corrompida por si só e pelas Caras e Daslus da vida, casada com um médico provinciano ascendendo à corte paulistana bem conhecida pelo conservadorismo e falsa moral.
    As famílias quatrocentonas torcem o nariz para tudo que não cheire a perfume francês e gravata italiana. Chanéis e Valentinos são idolatrados, e o anestesista da roça tem, na sua pouca capacidade de ação, e personalidade tímida e frágil, um refém dessa hipocrisia toda.
    Ao contrário do carioca Fernando Henrique, falastrão e pseudo intelectual, típico conhecedor superficial de tudo e a fundo de nada, um Jô Soares da vida...
    Roberto Freire tem todo o aspecto do filho do Coronel rebelado e depois “amansado”, que quer ser reconhecido no Sul Maravilha, algo assim como um Caetano Veloso da política;” “odeio a Globo, até ser contratado por essa. Meu sonho é ser reconhecido no Sul como intelectual que sou, um teórico sobre o nada, através do nada , pelo nada e para o nada”
    Parece que está conseguindo o intento, já deve estar preparando a vaga para ser vereador pela cidade de São Paulo...
    Fernando Gabeira, o playboy adamado da tanga de crochet, ressurge como o ex-guerrilheiro que teve um “barato” e ficou por aí.
    Nada contra sua luta pela descriminilização do uso de drogas, porém, para um ex-guerrilheiro que viveu na época de Hair, sua interpretação sobre Woodstock, foi muito superficial, esqueceu do socialismo, se é que algum dia, conseguiu chegar perto disso.
    Heloísa Helena é a metralhadora psicótica, vê inimigos por todas as partes, “todo palmeirense é veado, inclusive eu que sou corintiano”...
    O ALIENISTA DE MACHADO DE ASSIS IRIA TER MUITO TRABALHO, o Hospício de Brasília teria que ser muito grande para caber tantos pacientes.
    Nessa turba de lunáticos, o caso de Silvinho parece ser dos mais graves.
    Devemos, portanto, termos muito cuidado com esse novo personagem desse verdadeiro SAMBA DO CONGRESSO DOIDO...

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