Agora mudou!
Por: Marcos V. Manarinno
A colheita tinha sido muito difícil, a seca pegou todo mundo de surpresa e o milho, embonecado já, morreu, gorou, restou nada, só espigas frustradas, aborto daquela que seria uma safra boa, esperança de ganhar um trocado, de pagar as contas, de tenar recomeçar.
O feijão, todo perdido, acompanhava o lamento da perda do milho, feijão, milho, o amarelo pálido no lugar do verde, verde do novo, renovação da terra, da vida da esperança.
Mas tudo foi embora com o sol, seca voraz, fora de hora, desesperançando todo mundo de arredor, tragando os sonhos, atrapalhando o amanhã, toda manhã solar, o lar tão só, sem brilho, a não ser o do sol...
O que fazer? Agricultor pequeno, pequeno escultor com a enxada e o arado, sem trator, sem tratos, sem tratados, analfabeto, pobre, alqueire e meio, no meio da terra, olhando pra terra, seca e vazia, esvazia a alma e a calma se vai, vindo o medo, do degredo, desespero e angústia.
Perder tudo restar nada, seca infeliz.
As mãos calejadas aguentam, a alma calejada não mais, ter que vender a terra, largar a terra, desterrado degredo, desenterrados segredos de todos os medos que a vida semeou.
Sabia que nada daria certo, dinheiro no banco, escasso e caro, só pra fazendeiro rico, agiota nem pensar, entregar a terra, vendida barata, terra sem mata, terra de morro, mato sem cachorro, sem futuro, tiro no escuro, escuridão total...
- Mulher vou ao banco, na anca do burro, caminho difícil, estrada longa, banco distante, cidade distante, distante a cabeça, à beça só dor.
Sonhador caminhando, com a dor do caminho, sozinho na estrada, perdidos os olhos, cabeça baixa, quem acha que acha só acha o não.
Mas tentar, nada custa, arbustos robustos, margeiam a vida, estrada comprida, cumprida todo dia no arar, no plantar, esgotar o tempo, perdido tudo, Deus é quem sabe...
No banco, surpresa, um crédito aberto! Mentira decerto, propaganda de governo esperto... Se for só para rico, penico pro pobre, eterno sofredor.
Sofrer dor do não tem, não posso, colosso de mentira, que atira o pobre a esmo, ao mesmo lugar.
Mas não, agora mudou, o gerente falou, que foi seu doutor?
É verdade seu moço? Me tira do poço, me faz respirar.
Maria vem cá!
Dinheiro no bolso, comida pros filhos, pagar é preciso, mas pequenos, poder replantar.
Poder esperar que a terra refaça, na roda da vida, esperança pedida pode voltar, esperança perdida, cedeu seu lugar, ao verde da vida, ao verde da plantação, no cio da terra, da terra sedenta, que com a chuva vindoura, refaz o teu ciclo. Renasce ao luar...