Vamos boicotar a repugnante Veja!

Desde a posse do presidente Lula, em janeiro de 2002, a revista Veja, do poderoso Grupo Civita, perdeu totalmente a compostura. Se antes ela já possuía uma história sinistra, depois da vitória das esquerdas na eleição ela desembestou de vez. Hoje não tem mais nada de jornalismo, de informação ou imparcialidade. A revista virou um panfleto provocador, palanque das forças políticas mais reacionárias e entreguistas do país, ninho de tucanos e de velhos oligarcas, veículo venal do capital financeiro e das ambições imperiais dos EUA. A exemplo da mídia venezuelana, ela se transfigurou num partido de direita e declaradamente golpista. Algo execrável e repugnante, que faz mal ao Brasil, à democracia e ao próprio jornalismo.
Criada em 1968, três meses antes do golpe do AI-5, no início a revista até jogou um papel positivo na luta pela democracia. Editada na época por Mino Carta, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, ela foi censurada e sofreu apreensões em bancas. Mas o jornalismo sério, investigativo e independente não durou muito tempo. “A censura acabou quando eu sai da revista”, conta o ex-editor, que deixou a Veja em 1976 após vários atritos com os donos da Editora Abril, que se dobraram às pressões da ditadura e passaram a exigir a demissão de articulistas, como Plínio Marcos, e mudanças na linha editorial. “Os senhores Civita não entendiam nada de Brasil. Alias, continuam não entendendo. O rapaz Roberto Civita (atual presidente do grupo) é um idiota”, garante Mino, que conhece bem a pusilanimidade e os interesses desta família [1].
Já na fase de ascenso da luta pela redemocratização do país, a revista Veja passou a defender abertamente os princípios liberais de mercado, pregando a privatização das empresas estatais, e não vacilou em atacar o nascente movimento grevista. Ela também deu pouca cobertura à campanha das Diretas-Já, que exigia o fim da ditadura. Após o fim do regime militar, a publicação voltou as suas bandeiras contra as esquerdas. Com a débâcle da URSS e a brutal ofensiva do neoliberalismo, ela se tornou o principal porta-voz deste ideário. Assustada com a chance de vitória de Lula na sucessão presidencial de 1989, ela fez de tudo para embelezar a imagem de Collor de Mello, apresentando-o numa capa como “O caçador de Marajás” [2].
Durante o triste reinado de FHC, várias capas da revista deram apoio explícito à sua política de abertura indiscriminada das importações, de privatização das estatais, de satanização dos servidores públicos e de revisão da Constituição nos seus artigos mais avançados. O presidente tucano sempre foi tratado como um hábil estadista, até quando surgiram contra ele graves acusações de corrupção. Segundo denúncias, “FHC e Civita mantêm uma antiga amizade”. O dono da Editora Abril seria freqüentador da residência do ex-presidente, um luxuoso apartamento na Rua Rio de Janeiro, no bairro paulistano de Higienópolis [3]. A Veja também reforçou as investidas autoritárias de FHC para desqualificar qualquer crítica das oposições.
Oposição raivosa
O governismo exacerbado e envolto em interesses suspeitos só mudou com a posse do presidente Lula. A revista Veja virou o mais agressivo partido da oposição raivosa. Toda semana ela destila veneno contra o governo, geralmente com estardalhaço na capa. Mesmo sem provas, ela já acusou o presidente de receber dólares na campanha eleitoral de Cuba, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ou de doleiros. O governo já foi ilustrado na capa com as orelhas de burro e o presidente com o mesmo símbolo de Collor de Mello, numa sub-reptícia manobra pelo impeachment. Articulistas com altos soldos, notórios por suas posições fascistóides, esbanjam arrogância desancando ministros, intelectuais e partidos de esquerda.
A campanha de desestabilização é sistemática e implacável. Para o especialista Venício Lima, do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília, a revista perdeu os parâmetros jornalísticos e trabalha pela derrota do governo Lula. “A Veja não é uma revista de informação. Ela editorializa todas as matérias, é uma revista opinativa”. Analisando a asquerosa capa com o símbolo de Collor, ele concluiu que “a Veja está jogando numa mobilização da classe média, inclusive ao mostrar fotos de manifestações populares que ninguém viu ou que foram pontuais. Isso significa um apoio, uma conclamação à manifestação dessa classe média”. Para ele, “a Veja entrou num caminho que não tem mais retorno” [4].
O intelectual Emir Sader é ainda mais duro nas críticas à revista. “Seus colunistas são o melhor exemplo da vulgaridade e da falsa cultura na imprensa brasileira. Uma lista de propagandistas do bushismo, escolhidos seletivamente, reunindo de escritores fracassados, a ex-jornalistas aposentados, a autores de auto-ajuda, a profissionais mercantis da educação, misturando e mesclando esses temas em cada uma das colunas e nos editoriais do dono da revista... O MST, o PT, a CUT e os intelectuais de esquerda são seus alvos prioritários no Brasil. Para isso tem que desqualificar o socialismo, Cuba e Venezuela, assim como tudo o que desminta o Consenso de Washington, do qual é o Diário Oficial no Brasil” [5].
Ninho tucano
O ódio da revista Veja contra o governo Lula e as esquerdas em geral têm vários motivos. O primeiro é a sua própria origem de classe. A Editora Abril, que faz parte do restrito e fechado clube das nove famílias que dominam a mídia brasileira, defende com unhas e dentes os mesquinhos interesses da poderosa elite burguesa – nacional e estrangeira. Ela não tolera a hipótese de um dia perder os seus privilégios de classe. Teme qualquer acúmulo de forças dos setores populares da sociedade brasileira. Nunca engoliu a chegada ao Palácio do Planalto de um ex-operário, ex-sindicalista, ex-grevista. Em síntese, a revista Veja tem nojo dos trabalhadores! É, como afirma o teólogo Leonardo Boff, um problema de “cultura de classe”.
Não é para menos que ela sempre teve relações estreitas com o PSDB, que é o núcleo orgânico do capital rentista, e com o PFL, que representa a velha oligarquia conservadora. Emílio Carazzai, por exemplo, que hoje exerce a função de vice-presidente de Finanças do Grupo Abril, foi presidente da Caixa Econômica Federal na gestão de FHC. Quando deixou o cargo, divulgou uma carta cheia de bajulação. “O presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou a confiança em meu nome. Sinto-me honrado por ter feito parte desse governo”, afirmou. Pelo jeito, ele continua prestando seus serviços ao ex-chefinho! Outra tucana influente na família Civita é Claudia Costin, ministra de FHC responsável pela demissão de servidores, ex-secretária de Cultura do governo Geraldo Alckmin e atual vice-presidente da Fundação Victor Civita.
Afora os possíveis apoios de bastidores, que só uma rigorosa investigação, inclusive da Justiça Eleitoral, poderia comprovar, a Editora Abril doou, nas eleições de 2002, R$ 50,7 mil a dois candidatos do PSDB.

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