Esperança Virando Realidade - CANTO V

Por Marcos Loures

A ditadura trouxe a tempestade,
Deixando muitos órfãos e viúvas,
Nos campos pareciam com saúvas,
A morte destruindo a mocidade,
Não restando sequer felicidade.
Em São Paulo, crescia um operário,
Amante dessa vida, libertário,
No sangue que corria em suas veias,
A chama alimentando essas candeias.
Lutando por justiça e por salários.

Tristes anos setenta, representam
As lutas desse povo varonil,
As dores não calaram o Brasil,
Brados fortes com raça se levantam,
Nos abraços, fantasmas já se espantam...
Resistência mais forte deste povo,
Nossa vida não pode ser estorvo
As gargantas unidas soltam grito, Deus onde estás?
Pergunta o povo aflito.
Liberdade, podemos ver de novo?

A mão pesada quebra toda lei,
Os coronéis submissos do Nordeste,
A vida transformando-se na peste,
Monarquia terrível sem ter rei,
Desse país mais justo que sonhei,
Nada resta senão caricatura,
Essa noite cruel por ser escura,
Não permite sequer benevolência,
Impera Norte Sul, tal violência,
Comum em toda torpe ditadura...

Resquícios de justiça são bem raros,
Prisões se transformando em cadafalsos,
A todos são vendidos dados falsos,
Os corpos esquecidos são bem caros,
Os cães que torturavam, finos faros...
Esgoto cloacal por um momento,
Verdade se perdeu no esquecimento,
As mortes dos meninos sonhadores,
Rasgando, destruindo tantas flores,
De balas de tortura, empalamento...

Nas portas, nos jardins da nossa casa,
As rosas se tornaram puro espinho,
Não resta nem sequer um pedacinho.
As tropas invadindo, tudo arrasa,
A terra que se queima sol e brasa,
Não deixa nem sequer sobreviver,
As plantas que teimavam em nascer.
As mãos dos generais são abortivas,
As pedras atiradas destrutivas,
A vida quer, teimosa renascer...

Vivíamos AI cinco vergonhoso,
As celas entupidas por crianças,
Que tinham ideais e esperanças,
Pensar era um rito perigoso.
O clima que se via, sulfuroso.
Completa dissonância de valores,
A terra que dizia ter amores,
As portas que se fecham para a vida,
Os jardins sem as flores.
Distraída

A pátria convivia seus horrores.
Jorrava iniqüidades qual vulcão
Queimando toda forma de esperança,
Realidade morta... Na vingança
O gesto que maltrata sem perdão.
Na boca o sangue jorra podridão,
Brasil não tem sequer uma saída...
Distante, bem distante passa a vida.
Chorando a nossa pátria, mãe gentil,
Deteriorando todo o meu Brasil...

Nas mortes nas cadeias, "suicídios",
Nas rimas amputadas dos poetas,
As pontas com veneno dessas setas,
Os corpos escondidos, homicídios,
Nas greves começando seus dissídios,
Nas portas das escolas e dos sonhos,
Quem dera se pudessem ser risonhos,
Os dias de tempestas sem futuro...
Jogados violentos, contra o muro,
Os déspotas por certo são bisonhos!

Luis Inácio trava forte luta,
Pelo respeito ao povo e seu salário.
A vida desse cabra, um operário,
Acostumado a glória da disputa,
Não teme nem a dor e nem a gruta.
Na saga dum valente nordestino,
O mundo não lhe nega seu destino,
As portas do futuro estão abertas,
A vida preparou os seus alertas,
Abrindo seus caminhos pro menino!

A lua que brilhava avermelhada,
Do sangue que corria em nossas veias,
Destino preparando suas teias,
Da mancha desta gente torturada,
Os píncaros celestes, madrugada,
Carregam tantos corpos, vão pesados,
Os olhos que choraram marejados,
Os dedos que perdemos nas batalhas,
Segredos se perderam nas navalhas.
O rosto desse povo desgraçado.

A lua vai virando de mansinho,
Vê Surgindo uma estrela em seu lugar,
Mais forte refletindo luz solar,
Estrela vem surgindo do carinho,
Da luta desse povo pobrezinho,
Dos sonhos que fizeram liberdade.
As portas vão se abrindo, claridade.
D´uma estrela vermelha como o sangue,
Nas praças nas estradas, campos, mangue
Esperança conhece realidade!

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1 comentários

  • MARCOS LOURES  
    24/9/06 3:20 PM

    CANTO VII


    Depois das tempestades mais cruéis,
    Estrela brasileira quer brilhar...
    Estrelas lá do céu, refletem mar...
    Distantes generais e coronéis,
    Os sonhos ressurgiram seus corcéis...
    O povo pelas ruas exigente,
    Espera ver nascer, tão de repente,
    O sonho que sonhara todo dia...
    Renascer no Brasil, democracia!
    O dia clareou tão envolvente!!!

    Nas ruas, batalhões procuram paz.
    Diretas eleições prá presidente;
    Gritava nosso povo, nossa gente...
    Tempos negros, sangrentos, nunca mais!
    O povo quer mostrar do que é capaz!
    Nas ruas, batalhões foram frustrados,
    Últimos estertores, des’perados,
    Os donos do poder, podres servis,
    Calaram nossos sonhos juvenis...
    Os últimos grilhões foram mostrados!

    Eleições indiretas novamente...
    As portas semiabertas já mostravam,
    Que os dias mais felizes,já chegavam
    Mas essa ditadura renitente,
    Não queria sair impunemente...
    Nos plenários eleito foi Tancredo,
    Mas a morte mistura-se com medo
    E não deixou mineiro governar.
    José Sarney entrou em seu lugar,
    Estrela começava seu enredo!

    Nesses anos confuso presidente,
    Momentos belos, triste seu final.
    As elites preparam festival.
    Criando com sotaque diferente,
    Um ser extraterrestre: Minha gente!
    Crescia d’outro lado um operário,
    Um nome com sentido libertário,
    Estrela começando, quer brilhar,
    Mas a podridão não quer deixar...
    O rio procurando outro estuário!

    Imprensa brasileira, tão servil...
    Lacerda deixou muita tradição.
    Dos nossos jornalistas, traição!
    Jornais se transformando num covil.
    Os submissos covardes do Brasil,
    Criaram criatura mais infame,
    Os jornais foram feitos de reclame.
    Os vermes vendilhões interessados,
    Trafegam com gravadores empunhados,
    Estrume cultural há quem declame!

    Esses mesmos pilantras de hoje em dia,
    Vendidos pra vender uma revista,
    Espelham na verdade essa golpista
    Visão. Tentam lamber a burguesia...
    A verdade? Pra quê? Essa se adia...
    Tentam roubar do povo o coração...
    Se escondem disfarçados qual ladrão.
    Imprensa brasileira, me envergonha!
    Tentando distorcer, rouba quem sonha.
    O povo que te deu a concessão!!!

    Nossa imprensa calhorda e tão safada;
    Forjando tempestades num só lado,
    Visando destruir sem ter plantado,
    Maltrata nossa terra mãe amada,
    Ocultando essa faca bem guardada,
    Nas mãos que maltrataram, sem afago,
    Tubarões e piranhas neste lago,
    Empapuçam de sangue essa alvorada!!

    Roubada por mentiras e patranha,
    Estrela nunca mais irá dormir!
    O seu tempo não tarda mais a vir...
    Mesmo contra essa gente tão estranha,
    Os ladrões e falsários... Arrebanha
    O povo mais simplório mais sofrido...
    Um país tão cruelmente dividido,
    A fome se espalhando pelas ruas...
    As lutas verdadeiras são as suas,
    Estrela avermelhada do menino...
    O Brasil buscará o seu destino..
    Nas nossas lutas, bela, continuas...

    O boneco criado pela imprensa,
    Em flagrante delito já foi pego...
    Pelo poder elite tem apego,
    Muitas vezes o crime, sim, compensa...
    Os jornais não puderam fechar prensa,
    O nosso povo, saiu para a praça,
    Nas escolas meninos... tal fumaça
    Assustou poderosos e canalhas...
    Escondidos, os ratos, velhas tralhas,
    Disfarçados, misturam-se na massa!!!

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