Tempos Moderno
Por Olavo Soares
No começo da década de 1980, o cotidiano do bancário Davilson Moreira era mais ou menos assim: chegar cedo à agência, fazer um relatório dos cheques processados no dia anterior e, depois da abertura do banco ao público, posicionar-se atrás dos caixas e trabalhar mais uma vez em cima de relatórios e contas. Sem contato com os clientes e sem nenhum apoio da tecnologia a não ser de uma calculadora. Hoje, com mais de 30 anos de casa na mesma empresa, Davilson confronta-se com um dia-a-dia completamente diferente: tem a tecnologia como sua aliada nas tarefas, mas com ela vêm outras responsabilidades e cobranças que não faziam parte de seu trabalho em anos anteriores.Que a tecnologia influencia nos métodos de trabalho não é novidade para ninguém, mas o avanço gritante dos últimos anos que alguns chamam de Revolução Digital fez com que as mudanças no sistema de trabalho fossem muito significativas de 20 anos para cá, mais até do que em séculos anteriores inteiros. E, além de alterar o método de trabalho, as tecnologias interferem nas relações trabalhistas e no contato entre empregadores e patrões, traçando um novo perfil para muitas categorias.No geral, há o impacto da redução de postos de emprego. Afinal, se existem máquinas que fazem os serviços com grande eficiência, não é mais necessária a presença de algumas pessoas e funções nos ambientes de trabalho. Mas a questão primordial é que a mobilização dos trabalhadores e os seus direitos que, em tese, não teriam relação com essa mudança de tecnologias acabam também influenciados por essas transformações.Informalidade?A máquina não desemprega ninguém, diz o professor de sociologia Ricardo Antunes, da Unicamp o problema está na lógica adotada pelo sistema capitalista. Se o capitalismo é movido por dinheiro, nada mais esperado do que o sistema se guiar pelos lucros e não por uma tentativa de proporcionar conforto aos seus trabalhadores afinal, uma máquina, além de ser na maioria dos casos mais rápida e eficiente do que um ser humano, não exige salários, décimo terceiro, Previdência e outros elementos. É incomparável. Uma transação feita na boca do caixa custa para o banco R$ 1,10. No terminal automático, o mesmo processo sai por R$ 0,10, diz o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino.Para Ricardo Antunes, o que se verifica com a massificação das tecnologias representa um paradoxo. A tecnologia deveria trazer um avanço para o trabalho. Mas, na verdade, o que se vem verificando é um retrocesso. E, segundo Antunes, esse retrocesso se traduz em uma crescente informalidade do emprego. Aquele funcionário de carreira de uma grande companhia, com mais de 30 anos de casa e com direitos trabalhistas, tende a não existir mais. Vivemos em um quadro de fácil uso e descarte da força de trabalho, cita Antunes. O economista Airton Gustavo dos Santos, que é técnico do Dieese e atua no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, complementa dizendo que o excesso de mão-de-obra acaba por comprimir os salários para baixo. E o movimento sindical, nesse contexto, perde força.
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