Tucanolândia - 16

Por Marcos Loures

quem tem amigo, não morre pagão

Capo capixabaTestemunha diz que ex-PM matou sócio do Bingo Arpoador no Rio a mando de José Carlos GratzDono de um império de jogatina e indiciado pela CPI do Narcotráfico, o presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, deputado José Carlos Gratz (PFL), está sendo acusado agora de ser o mandante do assassinato do empresário Albérgio Alexandre Araújo, sócio do Bingo Arpoador, em Copacabana, no Rio de Janeiro. As investigações conduzidas pelo delegado de homicídios do Rio, Paulo Passos, apontam como um dos pistoleiros o ex-PM José Renato Maia, integrante do DOI-Codi durante a ditadura e matador a serviço de banqueiros do jogo do bicho. Depois de contar em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público que Gratz teria mandado matar Albérgio Araújo, a testemunha Geraldo Luiz Ribeiro de Almeida – empregado em Vitória de uma empresa do PM Josias Rodrigues de Oliveira, membro da Scuderie Le Cocq e segurança do deputado – também reconheceu José Renato como participante do Esquadrão da Morte capixaba. A polícia suspeita que a causa do assassinato esteja ligada à exploração das máquinas caça-níqueis por Albérgio no bingo. “O deputado José Carlos Gratz também é proprietário de todas as máquinas caça-níqueis existentes no Espírito Santo, e em cada cidade existe um dono de fachada”, acusou Geraldo de Almeida, que foi incluído pelo Ministério Público no programa federal de proteção à testemunha. “Conforme apuramos, Gratz controla várias casas de bingo como sócio oculto, sempre com contratos de gaveta”, reforça o chefe da Procuradoria da República no Espírito Santo, Ronaldo AlboEm depoimento gravado e filmado pelos federais, Almeida descreveu como aconteceram 15 assassinatos no Espírito Santo a mando de Gratz e do coronel PM Walter Gomes Ferreira, apontado pela CPI do Narcotráfico como chefe do esquadrão da morte capixaba. Almeida diz também que integram a rede de jogatina de Gratz cinco bingos em São Paulo. No Rio de Janeiro, além da parceria com o banqueiro de bicho Capitão Guimarães, o deputado seria sócio do Bingo Arpoador – formalmente seu nome não aparece na relação dos 21 proprietários da empresa.Poder paralelo – Mesmo com todas as denúncias, Gratz está aproveitando o enfraquecimento do governador José Ignácio, enrolado com as denúncias de corrupção no Estado, para ampliar sua força no governo. Na primeira semana de julho, ele emplacou Edgard Rocha Filho na presidência da recém-criada Loteria do Estado do Espírito Santo (Loteres). Na sexta-feira 13 de julho, o Diário Oficial do Espírito Santo publicou uma resolução do presidente da Loteres em que libera a instalação de máquinas caça-níqueis no Estado, apesar de elas serem proibidas em todo o território nacional por legislação federal. Na noite da quinta-feira 26, ISTOÉ ouviu o governador José Ignácio, que deixou o PSDB após intervenção do diretório nacional do partido no Estado que o ameaçava de expulsão. “Eu não sabia disso, estou abismado”, reagiu o governador. “Isso é uma loucura, foi feito à nossa revelia”, endossou o secretário da Fazenda, José Luiz Tovar, chefe de Rocha. Na sexta-feira 20, a resolução foi revogada. O episódio serve para mostrar que Gratz comanda um governo paralelo no Espírito Santo em que seus apadrinhados obedecem apenas a ele.Gratz, no entanto, está enfrentando um cerrado cerco das instituições federais. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, só autorizou o funcionamento do Bingo Camburi, em Vitória, depois que o deputado foi excluído da sociedade. O problema de ser dono oculto de um império é na hora de prestar contas à Receita Federal. O Fisco apurou que, nos últimos cinco anos, a evolução patrimonial de Gratz não bate com sua renda declarada. Além de ter sido multado, ele vai responder a processo por crime de improbidade administrativa. Como a situação de José Ignácio está cada vez mais complicada com a descoberta de que o caixa dois de sua campanha alimentava suas contas, o vice-governador, Celso Vasconcellos, poderia encomendar o terno da posse. Mas Vasconcellos – segundo avaliação de políticos capixabas de todas as tendências – não resistiria a investigações. O terceiro na linha sucessória no Espírito Santo é justamente Gratz. Por causa desse complicadíssimo imbróglio, o presidente Fernando Henrique Cardoso encomendou à Advocacia-Geral da União um estudo sobre as possibilidades de intervenção federal no Espírito Santo.O deputado José Carlos Gratz (PFL), presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, foi à tribuna, na quarta-feira 1º, a pretexto de se defender da acusação da testemunha Geraldo Ribeiro de Almeida, que, em depoimento à Polícia Federal, o apontou como mandante do assassinato de um sócio do Bingo Arpoador, no Rio de Janeiro. Dono de um império de jogatina e indiciado pela CPI do Narcotráfico, Gratz distribuiu agressões ao chefe da Procuradoria da República no Espírito Santo, Ronaldo Albo, ao prefeito de Vitória, Luiz Paulo Veloso Lucas, e a ISTOÉ. Inspirado em He-Man, personagem de desenho animado, abusou de baboseiras, como “sou invencível” e “sou mais forte que a fortaleza”. Mas o capo perdeu a força por causa da implosão de seu grupo político: um dia depois, três deputados estaduais se desligaram do PFL. Foi um racha pragmático. Com o aval de Gratz, eles fecharam um acordo com o vice-governador Celso Vasconcelos (PSDB). Aderiram à proposta de impeachment do governador José Ignácio, envolvido em um esquema de propina. Mas Gratz passou uma rasteira na própria turma e se acertou com o governador em troca da colocação de apadrinhados na Secretaria de Educação e nas presidências do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo e da Loteria do Estado.Fechada a barganha, Gratz mostrou serviço. Vetou a prorrogação dos trabalhos da CPI da Propina, o que fará com que a comissão encerre as apurações antes de receber o rastreamento dos cheques do caixa dois da campanha de José Ignácio em 1998. E escalou para a Comissão do Impeachment apenas deputados dispostos a salvar o governador. A sessão da Assembléia quase acaba em pancadaria e a aprovação da comissão foi adiada para a segunda-feira 6. Mesmo fazendo o jogo do governador, Gratz tem como plano B a conquista do governo, estendendo o impeachment ao vice-governador. “Aí a Assembléia elegeria o deputado Robson Neves”, diz a deputada Fática Couzi. Gratz e Neves dividem um escritório no Palácio do Café, em Vitória.O cerco contra José Ignácio está se fechando. Seu cunhado, coordenador de campanha e ex-secretário de governo, Gentil Ruy Ferreira foi preso, a pedido do MP, na segunda-feira 30. Outro ex-caixa de campanha, Raimundo Benedito, está foragido. Com pena, a primeira-dama Maria Helena Ferreira, pivô das denúncias, usou um carro alugado pela Secretaria de Governo para visitar Gentil num quartel da PM.

Havia uma província, em Tucanolândia, governada por um aliado do Rei Dom Fernando Henrique Caudaloso, onde a máxima mais usada era a de que a “única coisa organizada em Santíssima Trindade era o crime”.As reportagens feitas acima pela revista Isto É, demonstram a que ponto chegou o reinado de Dom Fernando Henrique Caudaloso.Após estas denúncias comprovadas, e confirmadas, o resultado foi a não intervenção no Estado, o término do mandato pelo governador, e a certeza de que, no reinado de Dom Fernando, quem era amigo não ficava pagão...O desligamento do Governador foi somente, como diz o povo da Tucanolândia, “prá inglês ver”; já que ele, a primeira dama e o genro, saíram todos impunes, felizes da vida...Observem que o deputado “amigo” do Governador, era do mesmo partido que sempre apoiou Dom Fernando e que hoje apóia Dom Gerald Aidimim...

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1 comentários

  • Anônimo  
    27/7/06 7:48 PM

    O Brasil não conhece o Brasil...
    Como não conheces o país aonde vives!

    Cada vez mais me assusto com a cruel realidade em que vivemos, há uma total ignorância do que seja a pobreza e a miséria por parte de uma classe média arrogante e ensimesmada.

    Essa “elite branca” não consegue ver um palmo à frente do nariz e fala sobre o que não conhece e nem sequer imagina.

    Quando se tem um país dividido, claramente, em castas, à moda indiana; a dura realidade das ruas não consegue tocar e muito menos se fazer ouvir pela oligofrenia social e econômica dos que se julgam donos da verdade e, infelizmente, por ignorância estão totalmente distantes dela.

    Um rápido exame demonstra que a miséria simplesmente é vista como algo contagioso e distante.

    Nos condomínios de classe média e nos bairros da pequena burguesia, a simples presença dos famintos é vista com ojeriza e preconceito. Não se consegue entender o que seja fome, muito menos pobreza.

    Para quem, como eu, lida com este estrato da população no dia a dia, e conhece esta realidade de perto, nada mais triste e desanimador do que perceber que o Brasil não conhece o Brasil, e nem quer conhecer.

    A história de Buda se repete a cada dia nas esquinas das grandes cidades, onde uma família a pedir esmola logo traz a idéia de banditismo e de tráfico.

    Pobre para essa parte asquerosa da nossa sociedade, é sinônimo de bandidagem ou de pilantragem.

    Há os que pensam que a fome é simples figura de retórica.

    O quilo do arroz, para o miserável, pesa muito mais na economia deste do que os finais de semana em Búzios ou no litoral paulista para essa “classe média branca e preconceituosa”.

    Os “donos da verdade” se fazem de juízes e de “comentaristas” sobre um mundo que não sabem conceber, pois desconhecem.

    Quando se vê uma criança desnutrida e faminta, a reação dessa canalha é fugir.

    Fogem do espelho que estampa a cara do mundo em que vivem e não conseguem encarar, por medo ou hipocrisia.

    Este nosso país é, ainda, o país das desigualdades sociais, herança de centenas de anos de exploração, sob o olhar complacente e cúmplice da nossa “elite”.

    Não falo da elite rica e dasluiana, essa não; pois essa casta nem sabe direito o que é Brasil, já que vêm e vão para o trabalho nos helicópteros particulares, em atitude verdadeiramente principesca.

    Falo do pequeno burguês, do pequeno empresário, do funcionário público medianamente graduado, dos doutores de escritório e de consultórios ricos e com secretarias gentis e de “boa aparência”.

    Falo dessa nossa estranha e obscura multidão de protegidos da pobreza, que passam por ela e a ignoram, que depositam seus reais nos programas televisivos de “caridade” e acham que estão quitando a sua conta com Deus.

    Falo dessa enorme multidão de engravatados que circulam nos centros comerciais das cidades grandes e que, ao dar bom dia ao porteiro, se acham “boas e perfeitas almas”.

    Falo daqueles que compram uma quinquilharia qualquer anunciada na televisão, e contribuem com as “casas de ajuda aos pobres”.

    Pobre não quer ajuda, quer dignidade!

    O dia do trabalho na roça vale dez reais, DEZ REAIS, e os energúmenos não conseguem entender isso!

    Os programas assistencialistas são “uma esmola que vicia o cidadão?”

    Concordo, mas vá você passar um mês todo com menos de um salário mínimo e me diga que é um programa politiqueiro!

    Vá pegar um ônibus lotado, depois outro e outro para chegar no trabalho, duas a três horas depois e ter que ouvir que “o brasileiro é vagabundo”.

    Vá ter seu filho crescendo faminto, subnutrido, sem assistência médica adequada...

    Vá passar uns dias de fome e, quem sabe, de sede, na casa de um desses milhões de brasileiros.

    Eu acho que essa experiência seria fantástica para vocês conhecerem o país onde vivem, seu povo e suas necessidades.

    Peguem uma enxada, capinem o dia inteiro, de sol a sol, comendo uma comida fria, sem sabor, sem proteína, e depois receba dez reais por isso.

    Veja a cara de nojo com que essa nossa “elite branca” olha para você e sinta a maravilha de ser brasileiro.

    Mande seus filhos venderem balas nos sinais, fazer malabares enquanto você recolhe latas de refrigerantes e cerveja e papel para poder viver mais um dia, faça isso por uma semana, somente uma semana.

    Mande suas filhas se prostituírem por qualquer cinco reais para poder garantir um pouco mais de comida na mesa.

    Façam isso e me digam depois se os cem reais por mês de ajuda são politiqueiros e eleitoreiros!

    Enfrentem os mangues podres, buscando caranguejos para manter a panelada de arroz e feijão feita no fogão a lenha, para ser disputado pelos filhos.

    Dispute a palma com o gado, para não morrer de fome! Bebam a água apodrecida nas cacimbas para não morrer de sede!

    Tentem sobreviver desta forma, pelo menos uma semana!

    Agora, uma coisa irá surpreendê-los: esse povo faminto, miserável, por incrível que pareça, é muito mais solidário que a pequena burguesia hipócrita, solidário e companheiro, amigo.

    Na pobreza; se divide o pão, na sede; se dá água, na dor; se dá alento.

    Alento e consolo, coisas que a nossa elite não conhece.

    Tome um pouco de cachaça, mesmo que te chamem de alcoólatra, escondidos sob o glamour dos vinhos importados e do uísque paraguaio que teimam em ostentar.

    Tome um gole, converse com os companheiros, batize seus filhos, console as dores de todos, e tão comuns e iguais.

    Faça isso e perceberás por que Jesus Cristo,quando veio à Terra, não quis a “elite branca” nem a burguesia. Nasceu e viveu entre os miseráveis de seu tempo, falou com eles e para eles.

    Depois de dois mil anos, o trigo e o joio continuam iguais.

    Absolutamente iguais.

    A próxima vez que orares e fores a um templo, pensem nisso.

    O verdadeiro Cristo não anda de helicóptero e nem tem nojo dos homens e, muito menos, não passa por eles como que a ignorá-los.

    Tenha coragem e arrebente a redoma de vidro em que vives, te garanto que vai ser muito bom, para sua alma e para sua vida.

    Daí, quem sabe, vás começar a entender que coisa linda e maravilhosa é o ser humano, em sua essência e que “cheiro de povo” é muito mais agradável do que o cheiro do cavalo.

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