sonho de um sonho sonhado e vivido - pesadelo

Por Marcos Loures

Sonhei um sonho sonhado
Desse tempo já passado
Por onde eu nunca passei.
Nem nunca mais encontrei,
O que perdi pela vida.
Nessa busca sem sentido,
Por essa noite perdida,
Pelo nunca mais ter tido.
Passava ruas estreitas,
Encruzilhadas sem rumo,
Tremendo pelas maleitas,
A vida perdendo o prumo.
Nesse sonho que sonhava
Percebi tantas senzalas
Mal percebia, acordava,
Voltava pras mesmas salas.
Os olhos podres sorriam,
Voavam sobre meu rosto,
Devoravam, renasciam
Formas, paladar e gosto.
Nos fraques que eles vestiam,
Um sorriso de bom moço,
No fundo todos sabiam,
Cardápios do mesmo almoço.
Nas bandejas, as cabeças,
Dos sonhos que tive outrora,
No meu sonho que às avessas,
No pesadelo d´agora.
Voltavam aves rapinas,
Tragando tudo de novo,
Destruindo essas campinas,
Sugando todo esse povo.
Forjavam outras correntes,
Acorrentando os mais frágeis,
Nos cantos, todos dementes,
Na carne, as unhas mais ágeis.
Expondo vísceras ocas
Dos trôpegos caminhantes,
Penetravam pelas bocas
Destruíam como dantes.
Numa dantesca folia,
Riam-se, tão delirantes,
Decepavam, maestria
Como fizeram bem antes.
Cuspiam todas as faces,
Ladravam nessas orgias,
Aproveitando os impasses,
Repetiam melodias
Cantadas nas tempestades,
Criadas sem fantasia,
Matavam as liberdades,
Anoiteciam o dia.
Nesse sonho já vivido,
Abandonado num canto
Crendo que estava perdido,
Renasceu, prá meu espanto,
Na noite, na madrugada,
Sem luz de lua a brilhar,
Sem vida, sem canto, nada
Que se possa festejar.
Meu Deus, afaste o tormento,
Não me deixe mais sonhar.
Quero viver o momento,
Quero essa vida a brilhar.
Não permita o pesadelo,
Não deixe mais retornar,
Corte o fio, esse novelo,
Não pode recomeçar.
Essas aves que cantaram,
Não deixe de novo, agora,
Pelos tantos que mataram,
Pelos corpos,que lá fora,
Apodrecem no quintal,
Esquecidos nas favelas,
Nas roças na capital,
Já não quero tantas velas.
Nem quero mais funeral,
Do nosso povo sofrido,
No grande canavial,
Pelo tanto destruído,
Pelo muito que roubado,
Esfacelando esse povo,
Pobre, sofrido, acoitado.
Não permita isso de novo!

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1 comentários

  • Anônimo  
    25/7/06 7:10 PM

    Lobo em pele de cordeiro
    Uma das coisas que tem sido veiculada e aceita por uma boa parte das pessoas é a afirmativa de que o Governo Lula e o Governo FHC são parecidos.
    Isso é uma mentira descabida, há diferenças estruturais e práticas evidentes.
    Imaginemos um estabelecimento comercial, com a mesma estrutura em dois momentos diversos.
    Num primeiro momento, o gerente deste estabelecimento vendeu quase todas as mercadorias a preço de banana, vendendo não somente as mercadorias, mas também os armários, móveis, escrivaninha, o padrão da energia, deixando o estabelecimento quase sem estrutura física.
    Além disso, foi ao sistema bancário, pegou uma fortuna emprestado e, ao invés de diminuir o déficit da empresa, aumentou formidavelmente sua dívida.
    E, finalmente, demitiu vários funcionários, criando uma situação insustentável.
    Por outro lado, aparece um outro gerente que, às custas de economias, paga parte da dívida, não vende mais nada, e recomeça um ciclo de criação de empregos.
    Qualquer comparação entre os dois gerentes nos dá uma óbvia idéia de diferenças administrativas, isso é claro e evidente.
    As desculpas usadas, afirmando que houve um gigantesco desvio de verba do estabelecimento pelo segundo gerente permite duas avaliações:
    1- ou o primeiro gerente foi extremamente guloso na expropriação dos bens do estabelecimento ou 2- foi de uma incapacidade administrativa sem precedentes ou os dois.
    De qualquer forma, o que me impressiona é a tentativa de se tentar demonstrar que houve igualdade nas administrações.
    Aliás, isso é muito comum, a tentativa de se tratar o povo como se esse fosse débil mental.
    Não se pode esquecer nunca de que todo poder emana do povo, e em nome deste deve ser exercido.
    Não falo que o Governo Lula tenha sido um primor, que não tenha me decepcionado e até me magoado com seus desacertos; mas querer comparar com o período FHC é demais.
    Nunca na história recente deste país se viram tantas maracutaias e trambicagens quanto no período tucano/pefelista no governo.
    E, não adianta tentar disfarçar, a candidatura de Alckmin e José Jorge não é nada mais nada menos do que a reedição desse período maldito da história brasileira.
    O simples fato de se pensar no retorno do país a esses tempos tenebrosos é capaz de criar pesadelos em todos os que querem um país melhor.
    A tentativa de se apresentar Alckmin de uma forma mais tragável e dissociado de FHC é como a utilização de uma máscara para tentar fazer pensar que é cordeiro o que tem rabo de lobo e uiva ao invés de berrar.
    Não deixemos que isso aconteça, precisamos colocar essa corja no seu devido lugar, no esgoto da história.
    Quem quer que ganhe as eleições, exceto esse pessoal que destruiu o país ou por incompetência ou por ladroagem, me dará o conforto de saber que posso deixar algo melhor para os que virão.
    Pensem nisso antes de se deixarem levar pela carinha de bom moço ou a aparente “fragilidade” e “inocência” desse tal de Geraldo...

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