Eu também tenho o pé na cozinha...

Por Marcos Loures

Certo dia, naquele pequeno reino beira mar, havia um homem muito sábio.Vivendo sempre perto do riacho que atravessava todo o território do minúsculo reinado, sem nunca ter saído dali, conhecia a vida de todos os moradores.A resposta a cada pergunta feita vinha pelo vento, trazida pelas águas ou no canto dos passarinhos.E sempre havia uma notícia nova, a toda hora, transitando pelas ondas que captava, no seu silêncio e na sua mansidão.Como já estava ali há mais de oitenta verões, conhecera todos os reis e súditos, a todos, desde o nascimento até a morte.O rei atual era filho da lavadeira, pobre lavadeira que vivera limpando as manchas das roupas dos ricos. Da mesma forma que seu filho queria, a todo custo, limpar as manchas deixadas no reino pelos antigos soberanos.Esses eram todos pertencentes a nobreza do local, filhos dos barões e dos condes, príncipes e princesas que , como a maioria dos reis, viviam do trabalho dos súditos. Houvera um rei poliglota, famoso por ter aprendido vários idiomas, menos o dialeto usado pelos súditos.Isso não era novidade, já que os reis anteriores também não sabiam falar aquela língua pobre, bem diferente do idioma oficial do reino.Termos como liberdade, fraternidade, solidariedade, tinham sido extirpados do idioma real, por alguns reis antigos que por lá apareceram, principalmente Ernesto I e Emílio I, acusados de terem mandado matar e desaparecer com alguns rebeldes.Após a intervenção de alguns nobres idealistas, como um tal de Odisseu. Aristocratas, sabedores de seu poder escravizador e contando com a ignorância mantida estrategicamente, dos súditos, finalmente aceitaram fazer eleições.No começo tudo deu certo, os súditos fragilizados e famintos, mantiveram os aristocratas no poder, como era de se esperar...Um representante dos súditos, o filho da lavadeira citado acima, tentara, sob o escárnio dos aristocratas, várias vezes chegar ao reinado.Um dia, por descuido dos aristocratas, ou quem sabe pela falta de qualidade dos candidatos destes, comprovando o ditado que diz que "água mole em pedra dura...", o filho da lavadeira ganhou a eleição.O rei Henrique I e II, famoso no mundo inteiro por sua capacidade de falar sobre tudo e não dizer sobre nada, irado e tentando boicotar de todas as formas o seu sucessor, principiou a vender todos os bens do reino, permitindo que todos os aristocratas que quisessem, por meio do Banco do Estado Real, retirar tudo o que quisessem.A fome começou a se espalhar no reino, e o preço dos alimentos disparou. Para surpresa de todos, o filho da lavadeira, que falava melhor o dialeto do que o próprio idioma real, começou a recolocar no dicionário, as palavras solidariedade, dignidade, igualdade e liberdade.Enquanto isso, o sábio da beira do rio, ouvia tudo e nada falava, somente pensava nas ironias da vida...Como conhecia todos os moradores do reino, sabia muito bem que os súditos, que nunca foram ouvidos pelos reis antigos, agora só falava no dialeto desconhecido por estes... Por conta disto, os aristocratas estavam falando, falando, ofendendo o rei, tentando aprender a falar o dialeto dos pobres.O sotaque demonstrava que ainda não tinham aprendido, quem sabe um dia?O sábio do rio assistia a tudo e se ria, sabedor de que nada mais engraçado que um lorde tentando demonstrar que tem "um pé na cozinha"...

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2 comentários

  • Anônimo  
    4/7/06 9:15 PM

    Venezuela formaliza sua adesão ao Mercosul

    A entrada da Venezuela no Mercosul, cada vez mais um bloco que se torna fortalecido e com aspectos de independência com relação às potências européias e aos EUA, demonstra que o caminho tomado pelos líderes latino americanos, é o correto.
    Não quero discutir Chavéz, quero falar sobre a Venezuela, país de importância econômica e estratégica fundamental para o engrandecimento do bloco.
    A unidade latino americana, assim como a União Européia, é de vital importância para o desenvolvimento de um novo mapa econômico mundial. Somente ela poderá fortalecer os países ao sul dos EUA, com problemas comuns e soluções urgentes.
    A cada dia, vemos o quanto é importante, na globalização, a união entre povos para o fortalecimento em debates e nas ações conjuntas contra ou a favor de interesses comuns.
    O Mercosul, contrapõe-se à ALCA, cuja finalidade primária é o subjugar o continente latino aos interesses da superpotência ao Norte.
    Em uma entrevista, Geraldo Alckmin se declarou favorável à reabertura das negociações visando a construção da ALCA, idéia extremamente infeliz e contrária ao rumo da história.
    Esse caminho não pode ser desviado e não se pode negar o rumo natural da humanidade. A subserviência aos EUA, através da ALCA, é desastrosa para todos nós, latino americanos.
    Sob a desculpa de que teríamos que aumentar os mercados, muitos defendem a reativação dos discursos sobre ela. Qualquer um percebe que isso não passa de uma balela. O comércio Livre, sem a mínima proteção à indústria e à produção local, leva à destruição da indústria dos países mais pobres, ou a exploração cada vez maior de sua mão de obra, por preços irrisórios, com o fortalecimento das transnacionais que já dominam o mundo.
    Outro aspecto de importância vital, é a política de monopolização de áreas agrícolas, visando a exportação, sempre a preços irrisórios.
    Isso já vem ocorrendo em vastas áreas dos territórios das nações latino americanas, e a tendência seria o agravamento desta tragédia ecológica.
    Um bloco mais homogêneo, em problemas e necessidades, fortalece a todos. Dando, inclusive independência aos seus associados.
    A melhoria observada pelas economias européias mais frágeis, é exemplar. Não se observa, qualquer coincidência entre a União Européia e a ALCA.
    A América Latina está cumprindo, tão somente, o seu destino histórico, idealizado por Bolívar, entre outros, de se tornar um importante partícipe desse novo mundo que se avizinha.
    Com relação às lideranças atuais, elas são passageiras, e de importância relativa. Não podemos esquecer que Bush, também o é, para sossego do mundo.
    Não interessa o declínio dos EUA mas, principalmente, o fortalecimento de um continente explorado, historicamente, desde a descoberta.
    Trocar ouro por bugigangas deve se tornar, cada vez mais, uma simples imagem de retórica. A destruição do patrimônio natural, pela substituição das riquezas naturais por monoculturas, o contrabando de patrimônio genético, entre outras coisas, são uma garantia para os povos da América Latina, de sua sobrevivência e dignidade.
    Não á ALCA é um sim à Independência e ao futuro.
    Bem vinda, Venezuela.
    Fortalecendo o sonho de Bolívar, fortaleceremos todo o continente. Dando um passo importantíssimo rumo à liberdade, ainda que tardia.

  • MARCOS LOURES  
    5/7/06 12:13 PM

    Em primeiro lugar, temos uma coisa que deve ser analisada friamente: os empregados domésticos, assim como e qualquer trabalhador tem que ter seus direitos preservados e isso ninguém pode negar.
    O FGTS é direito de todo e qualquer trabalhador, isso é outra verdade inquestionável. Um direito que deveria ser universal para todos os trabalhadores.
    Agora, outra coisa que temos que pensar é a forma, por que e por quem essas mudanças na lei trabalhista foram propostas.
    A mudança súbita no pensamento dos representantes das oligarquias, como os Coronéis e os grupos ligados a um passado de semi-escravidão em que vive ainda boa parte do povo brasileiro, é interessante e sintomática.
    Quem, no passado recente, esteve no poder por décadas, de repente, passa a ter um discurso totalmente diverso da prática, enquanto poder e enquanto representantes de grupos dominantes.
    Isso é sintomático, remetendo a uma demagogia incrivelmente explícita.
    Durante as décadas em que estiveram no poder, em momento algum se lembraram de olhar para a cozinha, para a babá de seus filhos ou para o jardim, onde estavam seus fiéis e dignos trabalhadores.
    Temos notícia até de trabalho escravo praticado por membros do Congresso Nacional, e isso não interessou, em momento algum, seriamente aos “pares”.
    Eu, particularmente, membro de uma classe média baixa, não possuindo nada além de uma Brasília 1978, pago salário, com carteira assinada e deposito o FGTS da minha secretária doméstica. Por isso, posso falar com toda a serenidade.
    Acredito que, grande parte das nossas secretárias, prefere ter o benefício da carteira assinada, o que é, inegavelmente, obrigação de todos os empregadores.
    Mas, com as características próprias da relação entre patrão e empregado, na relação doméstica, o recolhimento do FGTS e suas obrigações, levará a demissão em massa dos empregados domésticos.
    Não se pode onerar mais a classe média que já é altamente explorada pelos impostos que paga.
    Seria de bom tom, investigar-se quantos dentre os “novos defensores de direitos trabalhistas” pagam o FGTS de todos os seus empregados domésticos. Teríamos uma surpresa desagradável.
    O discurso que, na prática não funciona é pura demagogia. Ainda mais de onde vem tal discurso.
    Podemos observar que, pelo simples fato de um Governo, independente de qual for, ter uma proposta que aumentará o número de beneficiários da carteira assinada, para que o mesmo grupo que tinha as chaves do poder, tentar prejudicar, direta e indiretamente os setores mais necessitados da sociedade brasileira: a classe média e o proletariado.
    E com finalidades puramente eleitoreiras. Isso é um sinal da capacidade da tentativa de prejudicar o Presidente, sem se importar com o que quer que seja.
    Que se dane a classe média e os empregados domésticos.
    O que importa é “sangrar” o Lula. É isso que pensam os mesmos que nunca lutaram por direitos das classes sociais mais desvalidas e indefesas.
    “Que bom se o Lula vetar, vamos poder acusá-lo de ir contra os direitos dos trabalhadores. E, se ele não vetar, que se danem os milhares de empregados demitidos e a classe média que pague a conta”.
    Esse tipo de raciocínio, o mesmo usado no ano passado com relação ao salário mínimo de 380 reais, e com o reajuste dos aposentados no mesmo percentual do salário mínimo é, demagógico e eleitoreiro.
    Ao invés de aprovarem a unificação das arrecadações da Fazenda com a Previdência, o que permitiria a diminuição dos Impostos, já que inibiria a sonegação, tentam penalizar a classe média e o proletariado.
    Partindo de quem recebeu fortunas pelas “convocações extraordinárias” e custam à nação, mensalmente rios de dinheiro, isso é de péssimo tom.
    Para quem, a cada dia, através dos escândalos que pululam neste e em todos os governos, têm a imagem ligada à roubalheira e à corrupção, esta atitude chega às raias da hipocrisia.
    Conforme disse acima, sou favorável ao resgate da cidadania dos empregados domésticos, assim como o dos lavradores, mas isso passa, em primeiro lugar, pela formalização dos empregos nessas áreas.
    Aliás, sugiro que o benefício do FGTS se estenda aos lavradores, queria ver qual seria a reação da bancada ruralista, em sua maioria favorável a aprovação desse para os empregados domésticos.
    Não custa nada a classe média se lembrar desses fatos em outubro, muito menos o proletariado.
    FGTS para todos, inclusive para os lavradores, esse é o meu brado!
    Além, disso, a extinção de aposentadoria dos parlamentares, a não ser que tenham os 35 anos de prestação, comprovada de serviços. A economia que faríamos com esse novo tipo de sanguessuga, ajudaria a melhorar o salário dos “vagabundos” citados por um ex-presidente de triste passado.

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