Crise da Mídia
De www.emilianojose.com.br
Confusão na crise do mensalão
BERNARDO KUCINSKI
Boa parte da população acha mesmo que houve corrupção, mas não está claro como aconteceu. A confusão foi produzida pela própria mídia, ávida por denúncias e mais empenhada em incriminar do que em investigar. A começar pelo próprio nome - mensalão -, que se impôs pela repetição, como uma marca, e acabou virando seção fixa de jornal. Deputados passaram a ser chamados genericamente de mensaleiros. Ocorre que nunca foi provada uma relação entre pagamentos regulares e votações de deputados a favor do governo.
Jornalistas e oposição ignoraram até mesmo as questões do senso comum:
1) Por que pagar mensalão a sete deputados do PT que já votam com o governo?
2) Por que deputados foram ao Banco Rural apenas uma ou no máximo três vezes, se era um mensalão?
3) Por que o governo teve dificuldade em aprovar projetos se estava pagando mensalão para que fossem aprovadas?
4) Por que pagar mensalão a um deputado como Roberto Brant, do PFL, opositor ferrenho do governo?
O noticiário omitiu sistematicamente que as empresas de propaganda ficam com apenas 15% a 20% do dinheiro que recebem dos clientes para o pagamento das campanhas na mídia.
Quando a Veja noticiou que empresas de Duda Mendonça receberam R$ 700 milhões em cinco anos, nunca esclareceu que, de cada R$ 100 recebidos, cerca de R$ 80 ficam para o veículo onde foi feito o anúncio. A própria Veja e outros veículos da Abril, por exemplo, faturaram R$ 11 milhões em anúncios via Duda Mendonça.
CPI e mídia acusaram fundos de pensão de desvio de dinheiro para o valerioduto. Os fundos, que gerem centenas de bilhões de reais, contestam. A imprensa preferiu fontes desqualificadas que alimentaram a desinformação, diz o presidente do fundo Petros, Wagner Pinheiro.
OS MECANISMOS DO LINCHAMENTO PELA MÍDIA
1. A mídia foi pautada diariamente pela oposição: acusações verbalizadas pela oposição de tarde, viravam manchetes factuais no dia seguinte.
2. Acusações que deveriam ser ponto de partida para uma investigação jornalística eram publicadas sem checagem. Bastava usar termos como suposto, como observou Carlos Heitor Cony.
3. Os acusados não eram procurados para se defender e, quando eram, suas explicações eram tratadas com sarcasmo.
4. Surgiu um novo modo narrativo: basta ser indiciado para ser tratado como criminoso, mesmo que a acusação ainda esteja sujeita a ser rejeitada pela Justiça;
5. Nessa nova forma narrativa, escreveu o jornalista Carlos Brickman qualquer medida judicial em favor de réus é chicana e qualquer absolvição é pizza, independente de prova. Qualquer declaração do acusador é, em princípio, aceita como verdade...
6. Nessa nova narrativa predominou a malícia. Em vez de elucidar os fatos, contextualizando-os e hierarquizando-os, optou-se pela desinformação e a suspeição.
7. Todo o fogo era dirigido apenas contra o PT. A grande imprensa ignorou, por exemplo, as denúncias contra o banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, à lista dos doadores de Furnas. Ignorou ou relegou a segundo plano que o valerioduto foi criado pelo PSDB para a campanha de 1998 de Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.
8. Palavras pesadas foram usadas com freqüência, sem pudor: Palocci, estuprador de contas bancárias (Augusto Nunes, no JB); Lula, chefe da quadrilha (Correio Braziliense); Ali Dirceu e os 40 ladrões(idem).
9. Foi desencadeada uma perseguição incessante aos familiares de Lula e aos chamados amigos de Lula, com arbitrária violação da vida pessoal.
10. Legitimou-se a linguagem preconceituosa contra Lula, inclusive por colunistas importantes; alguns jornalistas especializaram-se em descobrir em todas as falas de Lula uma gafe.
11. Os meios de comunicação concentraram toda a cobertura na crise, desprezando acontecimentos importantes; Istoé deu 14 capas seguidas de crise; Veja deu mais de 20.
12. Depoimentos nas CPIs eram ignorados quando derrubavam acusações contra o governo.
13. Criou-se uma modalidade virulenta de jornalismo. Veja deu capas associando o PT a animais (rato, burro), imagens posteriormente recicladas por articulistas na própria Veja e em outros veículos. Os nazistas fizeram isso com os judeus com o objetivo de derrubar toda e qualquer barreira psicológica ao seu extermínio.
14. Houve a a tragédia da condenação sem julgamento, como disse em sua defesa o deputado do PFL Roberto Brant. Nenhum julgamento foi ainda feito na Justiça, mas na mídia e no imaginário social já estão todos condenados e suas imagens e reputações destruídas. Deu-se um linchamento midiático. (Artigo originalmente publicado na Revista do Brasil).
* Bernardo Kucinski é professor licenciado da ECA/USP
26/7/06 4:32 PM
O vento que venta lá...
Uma das coisas que me deixam intrigados é a tentativa de se criar uma imagem do presidente Lula como se fosse um ignorante, um incapaz.
Quando me recordo da eleição de Ronald Reagan à presidência norte americana e sua reeleição, isto me parece contraditório.
Não se pode deixar de lembrar também o “Exterminador do Futuro”, Arnold, atual governador da Califórnia.
Pode-se não gostar de Lula por vários motivos, mas a acusação torpe de que ele seja ignorante e despreparado e seria esse a causa de um possível desequilíbrio governamental é absurda e denota não tão somente o preconceito, mas também a discriminação.
O fato de termos um pseudo intelectualismo disseminado e arraigado na nossa cultura, com uma eterna subserviência de uma classe média a uma elite econômica gera situações desse naipe.
Engraçado que ninguém comenta sobre o grau de instrução do nosso vice Presidente, cuja universidade cursada foi a mesma de Lula.
O fato de termos um curso superior nos prepara para determinada área do conhecimento e não para o conhecimento global, embora a cultura e a educação sejam substratos importantes para o crescimento global do cidadão, embora não essenciais.
Se observarmos a inteligência em suas diversas matizes, um gênio como Pelé e Schumacher, melhor que qualquer doutor, são os maiores em suas áreas de atividade.
Assim como, para se ser gênio na música, assim como o foi Baden Powel, não há a necessidade de se conhecer profundamente a teoria musical, embora a capacidade seja potencializada pelos estudos. Nesse ano, comemoramos Mozart que, aos cinco anos de idade, não tinha cursado nenhuma universidade de música, e era um mestre maior que todos os professores reunidos.
Obviamente, a política é uma arte e destarte exercer a política necessita de dom; e isso, inegavelmente, Lula tem.
Assim como outros nomes da história da humanidade, de Abraham Lincoln a Adolf Hitler, isso falando sem preconceitos...
Querer atingir Lula por este flanco demonstra a incapacidade de coordenação de idéias e de argumentação.
Ao entrar em um centro cirúrgico, obviamente ficarei mais tranqüilo se o meu anestesista for Alckmin, se for Lula o profissional que for me anestesiar, te garanto que saio correndo.
Agora, os resultados econômicos dos dois governos demonstram uma diferença cabal entre as EQUIPES DE TRABALHO de ambos.
Obviamente, toda moeda tem duas faces, há os que acham que houve uma queda da qualidade de vida, que houve uma “roubalheira” ímpar.
Mas peço, com toda a humildade dos ignorantes, que me apontem, com números e datas a famosa “maior corrupção da História do Brasil”.
Seria muito bom se alguém pudesse dizer o volume de dinheiro e as fontes de onde vieram tais fortunas.
Não quero justificar um erro com o outro mas ver representantes dos “honestos e íntegros” governos tucanos despejarem essa bazófia sem comprovarem nem demonstrarem volume e origem me deixam um tanto quanto intrigado.
Não sou filiado a partido político algum, não falo em interesse próprio, aliás a classe média continua pagando a conta mas, dessa vez, através de alguns programas sociais de importância fundamental, como o PROUNI, o FIÉS, o PRONAF, o Luz Para Todos entre outros, me dão a certeza de que meus impostos estão sendo melhor investidos.
Como alguém disse, “é melhor que os bancos tenham maiores lucros, a partir de uma maior circulação de dinheiro do que se retirar dinheiro do povo para salvar as instituições financeiras”.