Na utopia do tucanato, o PT está morto

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O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), parece ter adotado o caminho ilusionista ao reduzir a disputa eleitoral de 2006, afirmando no jornal Folha de São Paulo da última sexta-feira (28) que “as figuras do PT estão desaparecendo do cenário”. O tucano garantiu ainda que não identifica meia dúzia de figuras expressivas no PT. Entre a utopia do governador mineiro e a realidade há uma longa trajetória, mas para o governador a ficção parece estar fazendo mais sentido, já que ele ignora que o presidente Lula mantém hoje a preferência de 40% do eleitorado brasileiro, contra 20% do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Como contraponto ao adversário, o “tucanato” aposta no slogan “choque de gestão”, a fim de disputar a opinião púbica nacional com a marca da mudança. Mas o que seria esse choque?
Já dizia Clarice Lispector que “se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas”. Em Minas Gerais, o choque de gestão do governador Aécio Neves (PSDB) foi baseado no equilíbrio das contas públicas, obtido por meio de um corte drástico dos recursos da área social e de um aumento extorsivo dos impostos, acima da inflação, sobre os trabalhadores.
Basta observar os dados sobre a elevação do ICMS para chegar à conclusão que, na matemática do PSDB “contribui” mais para o equilíbrio das contas públicas quem menos é atendido. As alíquotas dos serviços básicos subiram 42,84% na conta de luz; 33,33%, na de telefone; e 33,33% sobre os combustíveis. Nesses três setores, que respondem por 50% receita fiscal do Estado, quem acabou pagando o preço do aumento foi o consumidor final.
Enquanto a indústria mineira, que consome 61,96% da energia elétrica produzida, recolhe apenas 13,29% do total de impostos incidentes, o consumo residencial de energia elétrica, que representa 17,64% da energia produzida, responde pelo recolhimento de 41,56% do ICMS.
Com os serviços públicos e o funcionalismo a receita do choque de gestão é igualmente perversa: os professores do ensino fundamental, por exemplo, amargam um piso salarial de R$323,57, isso sem contar a redução das contratações que afeta a qualidade de ensino oferecida às crianças e aos jovens e o corte de 30% dos recursos da secretária de educação. Em resumo, no choque do “tucanato” os impostos são elevados, os serviços públicos sucateados e quem paga a conta do déficit zero é sempre os mais carentes.
Enquanto a cegueira e a arrogância dominam o Palácio da Liberdade, o diretório estadual do PT, PcdoB, PTN, PRB, movimentos sociais e populares organizam no próximo dia 19 de maio a “Consulta Democrático Popular” que pretende contar com a participação de 100 mil pessoas. Durante a consulta, os maiores de 16 anos aptos a votar nas eleições deste ano indicarão qual o candidato do PT ao governo do Estado e quais as bases programáticas dessa candidatura.
Como bom mineiro, o governador Aécio Neves já deveria ter aprendido que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Rosana Lilian – jornalista; assessora de comunicação do deputado federal César Medeiros (PT-MG)

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