Artigo
Por: Gilberto Freitas
Tenho a certeza nos olhos, horizonte e amanhecer, tenho a força nas mãos, calejadas e na alma esperançosa.
Tenho a vida na luta e a memória de meus mortos, num espaço de tempo que mais parece uma eternidade, tenho o porto e o barco, o campo e a cidade.Cidade de tantos guetos e favelas, de gritos e aflitos, nos morros e nas ruas.
Tenho o sangue dos meus pais, avós e camaradas, correndo nas minhas veias, pelas artérias do meu corpo e continente.
Tenho a angústia do que não vi, do que não vivi e, na verdade anseio.O seio da morena forte, os dentes cravados na carne macia, o amor louco e voraz das manhãs de preguiça.
Tenho o gosto que atiça os ventos das mudanças, nas mãos o tempo que nunca veio, mas está se aproximando.
Tanto tempo perdido, mas a vida se vinga e traz novo sabor, um cheiro de terra molhada, de fruta levemente apodrecida, derretendo na boca.
Meu canto de amor à essa Terra, diversa e una, única e plural; do gado no curral, na infância sofrida entre enxada e ancinho.
Tento meu canto insolente e insone, por meio de um resto de luz atravessando a porta. Inundando o quartoAcordando meus desejos e sensibilidade.
Merguho no brilho da luminosidade calma e constante, recebo o beijo da manhã seducente e obscenamente lúdica.
Me banho na cachoeira do final do arco-íris, na cútis da moça bonita, cabocla voraz, audaz e desnuda.Minhas palmeiras se foram, deixaram o eucalipto, mas o grito de libertas ainda ecoa, forte ressoa e invade a manhã.
Meninos, eu vi; no canto dos passarinhos, o canto dos aflitos que, ecoava oco, mas hoje é respondido, de forma ainda tímida, mas tenaz;
Nas senzalas restantes, nos quilombos e aldeias, nas mãos dos sofridos e discriminados.
No berro dos sem-terra, sem-teto, mas com esperanças, ouço o grito dos açoitados, massacrados, prostituidos, exilados na própria terra, cultivada e cultuada, com suor e dignidade.
Mas também ouço o alarde, o alarme soando, vem vindo um bando, tentando calar.
A mordaça e o tronco renascem lá longe, na mão dos capitães do mato, dos senhores de engenho, nos donos da terra.
De forma canalha, caluniam, vadios, tentam conter a turba dos desvalidos que, silenciosamente se soerguem e se aproximam.
Maioria faminta das merendeiras, faxineiras, engraxates, domésticas, que invadem as escolas, os sonhos, a esperança.
Mártires se foram, hoje não são mais tão necessários, por serem muitos;pelo furor dessa mudança na dança do poder, pela mulher que cresce e ocupa os espaços, pela sensibilidade do amor, da fragilidade da paz e da solidariedade dos pobres.
Meu amor se banha no rio, vermelho, mar vermelho, atravessado; em busca do refúgio do futuro
Como me orgulho do socialismo!
Como estou aprendendo a amar esse país!
A entender meu povo, minha gente, meus irmãos;
Aos Dom Hélder Câmara, aos Pedros Tierra, aos homens de bem.
A Frei Betto, a Betinho, a todos os que foram e estão e virão.
Muito obrigado, o sonho se aproxima da realidade e nessa estaremos em corpo e alma, com a calma dos sábios, do povo sábio que se sabia sabiá; feito pra cantar livre, sem medo de ser feliz.
23/10/09 9:24 AM
Artigo maravilhoso! Traz na sua essência a luta e a esperança de quem é oprimido pelo sistema mas não se cala, fala, grita, conquista e é feliz!
Parabéns, amei!!!!